Fachadas da Rua São Bento no triângulo histórico de São Paulo

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Legislação, materiais e técnicas construtivas, referências para a manutenção e conservação

I Regina Helena Vieira Santos I

Este artigo sintetiza as fachadas dos edifícios estudados ao longo da Rua São Bento [1], situada no “triângulo histórico” de São Paulo, e busca trazer legislações à época, assim como materiais e técnicas construtivas, para conhecermos os imóveis antes de sugerirmos procedimentos de manutenção e conservação apropriada para os mesmos. Contribuem para este trabalho a pesquisa do período colonial sobre a décima urbana [2] na colina da povoação inicial feita pela historiadora Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno [3] e a investigação da professora Heloísa Barbuy sobre o comércio e cosmopolitismo em São Paulo, de 1860 a 1914, uma referência essencial para entendermos as transformações nesse triângulo paulistano [4]. Complementamos com a metodologia utilizada na tese sobre a Rua-Avenida São Luiz, do arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre [5], que é relevante para entendermos a relação fundiária no século XX. Da outra parte, sobre a conservação prática dos imóveis, é de grande valia as pesquisas dos professores Regina Andrade Tirelllo [6] e Jorge Eduardo Lucena Tinoco [7].

Fig.1. Vistas da Rua São Bento. Desenhos elaborados com base em fotografias, geometria e planta cadastral da cidade, em 2007 (fonte: SANTOS, 2008).

A Vila de Piratininga resulta do estabelecimento dos jesuítas unificado com a Vila de Santo André da Borda do Campo fundada por Martim Afonso de Sousa [8]. Até cerca de 1800, a vila ainda era um lugar ermo e mantinha a aparência de arraial dos sertanistas, com pousos para os viajantes e suas tropas. Havia diversos sítios e fazendas em torno da Vila, prevalecendo o meio rural sobre o meio urbano. São mencionados, várias vezes, os conventos e igrejas, pois eram os principais edifícios da vila. Eram frequentes pontos de referência para os moradores, orientaram o traçado urbano e deram nomes a logradouros públicos, como: Largo e Rua São Bento, Largo e Rua de São Francisco, Largo e Rua do Carmo etc. A área do núcleo urbanizado se concentrava no perímetro que ficou conhecido como “triângulo”, formado pelas ruas São Bento, Direita e XV de Novembro, circunscrito no triângulo das ordens religiosas: Beneditinos, Franciscanos e Carmelitas [9].

Benedito Lima de Toledo sintetiza: “É uma acrópole que abrigou a cidade em seus três primeiros séculos de existência” [10]. São Paulo, colonial e imperial, tinha como matéria prima disponível o barro que foi muito utilizado na técnica da taipa de pilão, assim como a taipa de mão e o pau-a-pique, até meados do século XIX. Em outras regiões como o litoral era usada a técnica da pedra e cal, entretanto, ambas as técnicas construtivas adotam a cal como revestimento.

A Câmara de São Paulo promulgou em 1590 o primeiro Código de Posturas Municipais, sendo proibido ser feito casas sem alicerce em 1594 [11], um indício de um futuro Código de Obras. “A legislação é o conjunto dos documentos, normas, leis urbanas, ao longo do tempo, para a cidade de São Paulo, que regulamentaram, controlando o desenho da paisagem urbana” [12]. O primeiro “Código de Posturas da Câmara Municipal da Imperial Cidade de São Paulo” data de 1875, revisado em 1886 [13]. A introdução do tijolo na construção foi substituindo o uso das taipas, o próprio código passou a exigir, no artigo 27 e depois 32, “demolir os imóveis em taipa, sem soluções intermediárias como as consolidações destas paredes” [14].

Fig.2. Vista da Rua São Bento na esquina com a Rua José Bonifácio. A casa grande, o sobrado, à direita foi do Brigadeiro Luís Antônio e depois de seu filho, o Barão de Souza Queiroz (fonte: foto de Militão de Azevedo, 1862). [15]

Fig.3. No local do sobrado, à esquina direita, foi erguido em 1908 o palacete do Barão Souza Queiroz, projetado por Maximiliano Helh. O revestimento é de pedra fingida, para conservar a fachada é recomendado retirar uma amostra para ser analisada a composição em laboratório técnico. (fonte: foto da autora, 2014).

O cimento foi criado em 1824, porém, a primeira fábrica a produzir em São Paulo foi em 1907, a Fábrica Ítalo-Brasileira, com pouca produção [16]. Na passagem do século XIX para a primeira década do XX, as construções passaram a ser feitas de tijolos, com revestimento de argamassa à base de cal e tinta mineral ou a argamassa raspada (pedra artificial). Um exemplar na Rua São Bento foi concluído em 1908, projetado pelo arquiteto Maximiliano Hehl, na esquina com a Rua José Bonifácio, antiga residência do Brigadeiro Luís Antônio, depois do seu filho Barão Souza Queiroz [17]. A lei n. 1011 de 1907, “estabelece diversos favores aos proprietários que construírem prédios com mais de dois pavimentos sobre o sólo, adotando fachadas aprovadas pela Prefeitura, em determinadas ruas” (sic). Outro sobrado na Rua São Bento 47 primitivo [18], atual 293, data de 1916, projetado pelo arquiteto Hermond Colpard, com térreo mais dois pavimentos, o revestimento é em argamassa provavelmente à base de cal e tinta mineral, com muitos ornatos na fachada eclética.

Fig.4. Fachada do sobrado n. 47, de 1916, projetado pelo arquiteto Hermond Colpard, o revestimento provavelmente é à base de cal e tinta mineral, recomenda-se retirar uma amostra para ser analisada a composição em laboratório técnico (fonte: foto da autora, 2007).

Algumas edificações se utilizavam de cimento, mas era produto importado. Data de 1914 o Edifício Guinle, segundo Benedito Lima de Toledo, “bisavô” dos arranha-céus, o precursor da verticalização paulistana. Fatores externos como a Primeira Guerra Mundial influenciaram diretamente na construção civil, pois até então a maior parte dos materiais eram importados e, no decorrer do período de 1914-1918, a economia externa estagnou. Porém, foi um estímulo para a produção industrial interna, que teve grande influência da imigração europeia.

Em 1920, é estabelecido o Padrão Municipal para as construções particulares no Município, pela Lei n. 2.332, na Secção V, que trata da “arquitetura das fachadas”. Destacam-se os artigos:

Art. 96. Todas as vezes que a Prefeitura julgar conveniente, poderá submeter à crítica de uma Comissão de Estética as fachadas apresentadas e negar aprovação aquelas que forem rejeitadas pela mesma comissão. (…) Art. 97. As fachadas, constituindo um único motivo arquitetônico, não poderão receber pinturas de cores diferentes que desfaçam a harmonia do conjunto. Art. 98. As fachadas secundárias visíveis das vias públicas terão tratamento arquitetônico análogo ao da fachada principal. Art. 99. As pinturas decorativas ou figurativas, em situação visível ao público, só poderão ser executadas mediante desenhos completos, em escala mínima de um para vinte e aprovados pela Diretoria de Obras. (…) Art. 100. As edificações, no triangulo comercial (…) 2º. Parágrafo: As linhas mestras arquitetônicas, constituídas pelas cornijas, molduras, etc., serão estabelecidas de modo que: a) Constituam o mesmo motivo arquitetônico entre dois prédios contíguos; b) Quando for possível a coincidência exigida na alínea anterior, aqueles motivos arquitetônicos terão, no limite dos prédios, remate conveniente, de modo a evitar diferenças bruscas de nível ou a terminação dos mesmos em plano vertical, normal às fachadas. [19]

Nesta década, muitas construções foram feitas na cidade e, ao caminhar pelas ruas do centro, como na Rua São Bento, observa-se “conjuntos arquitetônicos” que muitas vezes são dois edifícios contíguos que harmonizam as linhas mestras arquitetônicas. Posteriormente a legislação seguiu:

Um Código de Obras é organizado em 1929, por Sylvio Cabral Noronha e Arthur Saboya, que deu nome a este. Era a Lei municipal n. 3.427, de 19 de novembro de 1929. O Ato n. 663, de 10 de agosto de 1934, consolidou o Código de Obras Arthur Saboya. O decreto Lei n. 92, de 2 de maio de 1941, dispunha sobre regulamentação especial para construção na zona central, alterando o perímetro desta, anteriormente estabelecido pelo Código Arthur Saboya. [20]

A fábrica de cimento de Perus foi instalada em 1924, com boa produção [21]. Neste mesmo ano foi concluída a obra do Edifício Sampaio Moreira, como observou o arquiteto Benedito Lima de Toledo: o “avô” dos arranha-céus; assim como o edifício que abrigou a Casa Fretin [22], na Rua São Bento esquina com a Rua da Quitanda, que, por estar na esquina, possui o chanfro conforme a lei n. 1.585/1912 [23]. A técnica construtiva passou a se utilizar de estrutura de concreto com alvenaria de tijolos. O revestimento com a argamassa raspada, também denominada pedra fingida, foi iniciado no mercado, sendo que cada edificação tinha sua particularidade de materiais na composição, inclusive tonalidades de cores. Os ornatos muitas vezes foram executados com a própria argamassa do revestimento, outras vezes recebeu cantaria.

De 1927, a edificação que hospedou o Cine São Bento [24], na Rua São Bento, foi construída com alvenaria de tijolos, revestimento provavelmente com argamassa de cal, inclusive os adornos, e pintura provavelmente com tinta mineral, a cobertura original é com telha cerâmica. Em 1929 foi concluída a obra do Edifício Martinelli [25] com 105 metros de altura, tido como “pai dos arranha-céus”, com fachadas para a Rua São Bento, Avenida São João e Rua Líbero Badaró.

Fig. 5. Casa Fretin, obra concluída em 1924, à esquerda foto da década de 1970, acervo Biblioteca FAUUSP. À direita o mesmo edifício com revestimento de pedra fingida (fonte: foto da autora, 2017).

Fig. 6. À esquerda fachada Cine S. Bento, construído em 1927 (fonte: foto acervo da Biblioteca da FAUUSP, s/d). À direita, pormenor do frontão da fachada. Observar que a técnica construtiva é alvenaria de tijolos. O revestimento provavelmente é com argamassa à base de cal, porém precisa ser feito teste para ver a composição exata (fonte: foto da autora, 2007).

Fig. 7. Fachada revestida de pedra fingida, concluída em 1929, do Edifício Martinelli. Neste pormenor, em destaque o dano, pichação (fonte: foto da autora, 2017).

O edifício do antigo Banco São Paulo [26], projeto do arquiteto Álvaro Botelho, construído de 1935 a 1939, também é revestido com pedra fingida (argamassa raspada), mas de uma fase que o material é industrializado.

Fig. 8. Detalhe do revestimento de pedra fingida na fachada do Banco de São Paulo (fonte: Fernanda Craveiro Cunha, 2012). [27]

Fig. 9. Edifício Banco de São Paulo, data de 1939, do arquiteto Álvaro Botelho, foto para a Rua João Brícola e desenho da fachada da Rua São Bento, com revestimento em pedra fingida (fonte: SANTOS, 2008, pp.304-307).

A técnica da construção utilizando o concreto armado difundiu e é muito utilizada até hoje. Em 1947 é inaugurado o Edifício Altino Arantes, com 36 andares, um marco na paisagem da cidade, uma referência, além de estar em cota alta possui 161 metros de altura. Marca também a mudança no revestimento com o uso de pastilhas cerâmicas. Revestimento também adotado no Edifício sede do Banco do Brasil, na Rua São Bento, com 143 metros de altura, concluído em 1955. Neste mesmo ano, na mesma rua, mesmos materiais e técnicas construtivas, foi concluído o Edifício Lamia [28], projetado pelo arquiteto Gregori Warchavchik. Para as fachadas: “O Código de Obras de 1955, Lei municipal n.4615, de 13 de janeiro, no capítulo V – Arquitetura das fachadas, no artigo 181, 1º parágrafo, especifica que na rua de São Bento o número de pavimentos era no máximo seis” [29].

Fig. 10. Vista da Avenida São João. À esquerda, Edifício do Banco do Brasil; ao centro, Edifício Altino Arantes; e à direita, Edifício Martinelli (fonte: foto da autora, 2005).

Fig. 11: Edifício Lamía, concluído em 1955, projeto de Gregori Warchavchik. Fotos da pesquisa: as duas à esquerda são de 2006, apontando o material original; à direita superior, logo após a intervenção em dezembro de 2007 e à direita inferior, em 2017. (fonte: fotos da autora, 2006 e 2017 respectivamente)

No local onde fora o solar do Barão de Iguape, nos anos 1920, foi construído uma edificação com cinco pavimentos que hospedou por mais de vinte anos as Lojas Mappin Stores [30]. Em 1956 começa a ser construído em concreto armado e revestimento em pele de vidro o Edifício Barão de Iguape [31], inaugurado em 1959, com 133 metros de altura. Concluindo os revestimentos existentes das fachadas ao longo da Rua São Bento, em concreto aparente e técnica construtiva de concreto armado, o Condomínio Edifício de Galerias São Bento [32], teve habite-se em 1969, assim como a Estação São Bento do Metrô.

Fig. 12. Praça do Patriarca na Revolução de 1930. Em destaque, ao centro, o edifício projetado pelo escritório técnico Ramos de Azevedo em 1910, no local onde era a casa do Barão de Iguape. Observar à esquerda o edifício que abriga a “Casa Fretin” (fonte: SANTOS, 2008, imagem 453, p. 390).

Fig. 13. Em destaque, ao centro, o edifício Barão de Iguape projetado pelos arquitetos Jaques Pilon, Giancarlo Gasperini e Jerônimo Bonilha Esteves, em 1956, foi inaugurado em 1959 (fonte: SANTOS, 2008, imagem 104, p.159 e pp. 218-220.)

Fig. 14. Condomínio Edifício e Galerias São Bento, data o habite-se de 1969, com técnica construtiva concreto aparente (fonte: fotos da autora, 2007 e 2017 respectivamente).

Cabe salientar o benefício para o espaço urbano proporcionado pela Lei da Cidade Limpa [33], n.14.223/2007, que regulamenta a publicidade nas fachadas da cidade e que permitiu, inclusive, ver o que estava oculto atrás de painéis metálicos. Os edifícios citados na Rua São Bento estão em um fragmento estudado do “triângulo histórico” com base na pesquisa que permite tirar a conclusão sobre a diversidade de datas de construção:

Considerando que a rua São Bento após a obra do metrô (década de 1970) não teve nenhum processo de solicitação de habite-se total para um edifício, pode-se dizer que o estudo feito da situação atual no começo do século XXI apresenta uma situação “congelada” há três décadas. Dos edifícios existentes hoje na rua São Bento existem três do século XIX, há nove exemplares da primeira década do século passado. Há apenas um remanescente da década de 1910; oito da década de 1920 e nove da década de 1930. Há vários edifícios das décadas de 40 e 50, são nove e dezessete respectivamente. Da década de 1960 existem apenas dois. Da década de 1970 há oito edifícios, mais a abertura da Praça Paulo Duarte, e houve algumas demolições decorrentes das obras do metrô. Fica claro que o Código Arthur Saboya de 1929, e suas posteriores revisões, foi a normativa que regulamentou o espaço urbano ao longo do fragmento desta pesquisa. [34]

Buscando relacionar os edifícios com o tratamento de suas fachadas, foi consultado o Dicionário da Arquitetura Brasileira, Corona & Lemos, para a definição de fachada [35]: designação de cada face do edifício. Frontaria ou frontispício é geralmente o nome que se dá à fachada da frente, a que dá para a rua. Na linguagem mais comum, constitui apenas, esse caso, a “fachada principal”. As outras serão denominadas de fachada posterior, ou fachada lateral. O conjunto das fachadas e sua composição plástica darão, em volume, o caráter, a fisionomia do edifício. Essa composição das fachadas é feita através do tratamento do plano, das superfícies, dos cheios e vazios, da modenatura, dos materiais e sua textura e da cor. Com esses elementos o arquiteto trabalha e compõe uma fachada, dando expressão final à criação arquitetônica. Outros conceitos que serão adotados estão estabelecidos no Caderno Técnico 1 do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) [36] e no glossário do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) [37]:

Conservação: conjunto de ações destinadas a prolongar o tempo de vida de determinado bem cultural. Engloba um ou mais tipos de intervenções.

Manutenção: conjunto de operações preventivas destinadas a manter em bom funcionamento e uso, em especial, a edificação. São exemplos: inspeções rotineiras, a limpeza diária ou periódica, pinturas, imunizações, reposição de telhas danificadas, inspeção nos sistemas hidrossanitário, elétrico e outras.

Outro conceito relevante para esse trabalho é:

Entorno: Área de vizinhança de Monumento Nacional regulamentada por norma com o objetivo de garantir sua visibilidade e ambiência.

A técnica construtiva, como dito, vivenciou mudanças muitas vezes decorrentes dos materiais disponíveis. Como fazer a manutenção e conservação apropriada dos imóveis construídos no passado nos dias de hoje, eis um desafio para colocar em prática. A professora Beatriz Kühl destaca:

Uma questão de primordial importância a ser considerada nas intervenções em edifícios de interesse histórico é o tratamento das superfícies. A abordagem desse problema depende da proposta de restauração como um todo, resultante de análises pormenorizadas do edifício ou conjunto de edifícios e do ambiente em que estão inseridos. [38]

O professor Jorge Eduardo Lucena Tinoco salienta a importância da distinção entre as palavras: saber, conhecer e compreender; para serem empregadas corretamente “dentro da linguagem técnica dos estudos dos danos das edificações” [39]. Assim, foram elencados tipos de revestimentos encontrados nas fachadas estudadas à Rua São Bento [40], e o prévio modo de conservar. Complementada no início com a técnica utilizada no período colonial e imperial, e seu respectivo revestimento. Conhecimento essencial para saber  como conservar e fazer a manutenção. Em síntese, para a adequada manutenção deve ser utilizado o mesmo material apresentado nas fachadas quando da sua construção:

  1. Taipas (terra) – revestimento cal; lixar e reaplicar cal.
  2. Argamassa de cal – pintura tinta mineral; lixar e reaplicar a tinta mineral, em caso de dúvida da cor é recomendado ser feita a prospecção.
  3. Argamassa raspada ou pedra fingida – retirar amostra para ver a composição, com base no resultado da composição da amostra, proceder eventuais reparos.
  4. Pastilha cerâmica – o mesmo material; fazer limpeza com detergente neutro.
  5. Pele de vidro – o mesmo material; fazer limpeza com detergente neutro.
  6. Concreto aparente – retirar amostra para ver a composição, com base no resultado da composição da amostra, proceder eventuais reparos.

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Outros materiais no revestimento como: pedra, tijolo aparente, madeira para esquadrias ou ferro com serralheria artesanal em guarda corpos, telhas de cerâmica na cobertura: em qualquer intervenção é recomendado fazer tratamento de conservação do existente. Em caso de o dano ser grande, buscar restaurar o existente. A manutenção da rede elétrica e hidráulica deve ser constante para qualquer edificação. Um tópico muito importante é conhecer os materiais e técnicas construtivas originais de revestimento das edificações para poder ser feito o correto diagnóstico e apropriada intervenção. Ter informações sobre quando foi construído o objeto e quais as legislações em vigor naquele momento contribuem para melhores soluções.

Enfim, para as fachadas da Rua São Bento ou mesmo tantas outras do centro histórico de São Paulo, ou ainda em muitos locais da cidade, antes de qualquer intervenção deve-se conhecer, estudar, desenhar os mapas de danos, analisar para então elaborar um projeto arquitetônico de restauro, recuperação ou conservação da fachada. Lembrando ainda que o projeto [41] pode abranger a edificação toda, adequando às novas necessidades edilícias, introduzir novos materiais que sintonizem com o existente sem ofuscar, buscando também harmonizar com o entorno.


Notas

[1] SANTOS, Regina Helena Vieira. Rua São Bento: um fragmento da cidade de São Paulo que registra as transformações e persistências na paisagem urbana. São Paulo: FAUUSP (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), 2008.

[2] Décima urbana foi o primeiro imposto predial, passou a ser cobrado na ocasião da vinda da família Real para o Brasil, 1808 – salvas as devidas proporções, seria equivalente ao IPTU atual. A medida de um lanço equivale a 2,20 metros. Sobre este tema ler: BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Tecido urbano e mercado imobiliário em São Paulo: metodologia de estudo com base na Décima Urbana de 1809. Anais do Museu Paulista – História e Cultura Material. V.13, p.59-97. São Paulo: USP, 2005.

[3] BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Tecido urbano e mercado imobiliário em São Paulo: metodologia de estudo com base na Décima Urbana de 1809. Anais do Museu Paulista – História e Cultura Material. V.13, pp. 59-97. São Paulo: USP, 2005.

[4] BARBUY, Heloisa. A Cidade – Exposição. Comércio e Cosmopolitismo em São Paulo, 1860-1914. São Paulo: EDUSP, 2006.

[5] LEFRÈVRE, José Eduardo de Assis. De Beco a Avenida. A história da Rua São Luiz. São Paulo: EDUSP, 2006. ______. A quem interessa o centro de São Paulo? A Rua São Luiz e sua evolução. São Paulo: FAUUSP (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), 1999.

[6] TIRELLO, Regina Andrade; CORREA, Rodolpho Henrique. Sistema Normativo para mapa de danos de edifícios históricos aplicados à Lidgerwood Manufacting Company de Campinas. In: VI Colóquio Latinoamericano sobre Recuperação e Preservação do Patrimônio Industrial, 2012. São Paulo: Anais do VI Colóquio Latinoamericano sobre Recuperação e Preservação do Patrimônio Industrial. São Paulo: Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, 2012, v.1, pp. 26-44.

[7] TINOCO, Jorge Eduardo Lucena. Mapa de danos – recomendações básicas / Textos para discussão – série 2: Gestão de Restauro. Olinda: CECI, 2009. Disponível em: <http://ceci-br.org/ceci/br/publicacoes/59/518-textos-para-discussao-v-43.html>. Acesso em: 10 jan. 2019.

[8] “Terçafeira pela menhãa […] Aqui neste porto de Sam Vicente varámos hûa não em terra. A todos nos pareceu tam bem esta terra, que o capitam J. determinou de a povoar, e deu a todolos homês terras para fazerem fazendas; e fez hûa villa na ilha de Sam Vicente; e outra nove léguas dentro pelo sartam, á borda d’hum rio, que se chama Piratininga: e repartiu a gente nestas duas villas e fez nelas oficiaes: e poz tudo em boa obra de justiça, de que a gente toda tomou muita consolaçam, com verem povoar villas e ter leis e sacreficios, e celebrar matrimônios, e viverem em comunicação das artes; […]” (sic.). (VARNHAGEN, 1839, p. 58). Transcrição do Diário de Navegação 1530-1532, de Pero Lopes de Sousa. Em: SANTOS, Regina Helena Vieira. Itanhaém: Arquitetura Colonial no litoral sul de São Paulo. In: MARTINS, Renata; MIGLIACCIO, Luciano (Org.). No Embalo da Rede: Trocas Culturais, História e Geografia Artística do Barroco na América Portuguesa. Sevilha/São Paulo: UPO/FAUUSP, 2020.

[9] SANTOS, op. cit., 2008.

[10] TOLEDO, Benedito Lima. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo: Duas Cidades, 1981, p. 13.

[11] BRUNO, Ernani Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. vol. I, II, III. São Paulo: José Olympio, 1954, pp. 151-152.

[12] SANTOS, op. cit., 2008, p. 89.

[13] Sobre legislação ver: CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Centro de Memória CMSP. Uma história em transformação. Disponível em: <http://www.saopaulo.sp.leg.br/memoria/leis/>.

[14] SANTOS, op. cit., 2008, p. 105.

[15] LAGO, Pedro Corrêa do. Militão Augusto de Azevedo. São Paulo nos anos 1860. Rio de Janeiro: Capivara, 2001, p. 95.

[16] CUNHA, Fernanda Craveiro. Revestimento de pedra fingida no centro de São Paulo. Revista Restauro, n.1, 2017. Disponível em: <https://web.revistarestauro.com.br/revestimento-de-pedra-fingida-no-centro-de-sao-paulo/>. Acesso em: 13 maio 2020.CUNHA, 2017, p. 38 e 59.

[17] SANTOS, op. cit., 2008, pp. 202-204.

[18] Idem, pp. 245-246.

[19] Lei n. 2.332, de 9 de novembro de 1920. Disponível em: <http://documentacao.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/leis/L2332.pdf >. Acesso em: 17 dez. 2020.

[20] SANTOS, op. cit., 2008, p. 114.

[21] CUNHA, Fernanda Craveiro. Pedra fingida. Protagonista invisível do centro de São Paulo. São Paulo: GAPS, 2017, p. 38 e 59.

[22] SANTOS, op. cit., 2008, pp. 250-251.

[23] Lei n. 1.585, de 9 de novembro de 1920. Disponível em: <http://www.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/leis/L1585.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2020.

[24] SANTOS, op. cit., 2008, pp. 234-236.

[25] Idem, pp. 290-293; HOMEM, Maria Cecília Naclério. O Prédio Martinelli, a ascensão do imigrante e a verticalização de São Paulo. São Paulo: Projeto, 1984, p. 13.

[26] SANTOS, op. cit., 2008, pp. 304-307

[27] CUNHA, Fernanda Craveiro. Revestimento de pedra fingida no centro de São Paulo. Disponível em: <https://web.revistarestauro.com.br/revestimento-de-pedra-fingida-no-centro-de-sao-paulo/>. Acesso em: 13 maio 2020.

[28] SANTOS, op. cit., 2008, pp. 224-244.

[29] Idem, p. 118.

[30] BARBUY, op. cit., 2006, p. 75.

[31] SANTOS, op. cit., 2008, pp. 217-220.

[32] Idem, pp. 328-330.

[33] PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, COMISSÃO PERMANENTE DA PAISAGEM URBANA – CPPU. Lei 14.223, Cidade Limpa. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/upload/pinheiros/arquivos/Cartilha_lei_cidade_limpa.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2021.

[34] SANTOS, op. cit., 2008, p.120.

[35] CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: Edart, 1972, pp. 213-21

[36] IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Caderno Técnico 1, p.13. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/CadTec1_Manual_de_Elaboracao_de_Projetos_m.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2020.

[37] PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, CULTURA. Glossário de termos – Resoluções do Conpresp. Termos das Resoluções do Conpresp 1988-2007. 26 fev. 2008. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/conpresp/legislacao/resolucoes/index.php?p=3815>. Acesso em: 27 fev. 2019.

[38] KÜHL, Beatriz Mugayar. O tratamento das superfícies arquitetônicas como problema teórico da restauração. Anais do Museu Paulista. v.12. São Paulo. pp. 309, jan./dez. 2004.

[39] TINOCO, op. cit., 2009, p. 3.

[40] SANTOS, op. cit., 2008.

[41] Todo projeto de restauro arquitetônico deve ter autoria e responsabilidade técnica de profissional habilitado conforme Decisão Normativa no 83, de 26 de setembro de 2008, do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA. Disponível em: <http: \\normatos.confea.org.br/downloads/0083-08.pdf>. Acesso em: 26 set. 2021.


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Regina Helena Vieira Santos

Arquiteta e urbanista. Doutora, na área de História e Fundamentos pela FAUUSP, em parceria com a Università degli studi di Firenze-Italia. (2013-2017). Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP (2005-2008). Especialização em “De Gestão do Território Municipal”, objeto de estudo Município de Itanhaém; PUC-CAMPINAS, 1997/1998. Cursou como extend student na San Diego State University – California, EUA, 1994-1996. Concluiu a graduação na FAUS (1994). Professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FIAM-FAAM-FMU Centro Universitário. Atuou como professora colaboradora na disciplina de Laboratório de Restauro na Università degli Studi di Firenze em 2016/2017. Atualmente é pesquisadora e colabora como professora na FAUUSP. Atua como arquiteta efetiva na Secretaria Municipal de Cultura/PMSP, Departamento do Patrimônio Histórico – Museu da Cidade de São Paulo. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Restauro de Arquitetura. Membro do ICOMOS. Associada ao Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB/SP. E-mail: rhvs@alumni.usp.br/rhvs@usp.br


logo_rr_pp v.5, n.10 (2021)

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