Chácara da Baronesa: mapa de danos e desafios da conservação

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I Elaine Ferreira Chagas, Larissa Fernandes Morais, Anny Falcão Schwendler, Fernanda Bueno Silva, Thais Cristina Silva de Souza, Izabelle Bianca Uyeda I

Breve história do Parque Estadual Chácara da Baronesa

O antigo Haras São Bernardo, atualmente conhecido como Parque Estadual Chácara da Baronesa, está localizado no município de Santo André, na divisa com São Bernardo. Implantado na década de 1920, a propriedade de aproximadamente 340.000 m2 foi usada, originalmente, como chácara pela família Crespi que, de origem italiana, estabeleceu-se na cidade de São Paulo, em 1893. Logo após a emigração, Rodolfo Crespi e sua esposa, Marina Regoli, construíram uma tecelagem no bairro da Mooca que, futuramente, seria um dos maiores grupos industriais do Brasil no início do século XX. Além do ramo têxtil, o empresário fez investimentos em outros setores, como na “Companhia Cerâmica Vila Prudente e na criação do Clube Atlético Juventus” [1].

Após o falecimento de Rodolfo Crespi, em 1936, o Haras São Bernardo foi vendido para a empresa Chácara São Bernardo S/A, de propriedade do casal formado pelo barão suíço Otto von Leithner e pela francesa Maria Branca von Leithner. Segundo seus funcionários, o casal possuía várias propriedades industriais na Bahia e imóveis em diversos locais do país e na França. O barão e a baronesa equiparam a chácara com as técnicas mais modernas da época e mantiveram o controle rigoroso da população equina. Desse modo, havia apenas 25 éguas no Haras, e todos os animais eram treinados pelo húngaro Joseph Gatti, que ali trabalhou de 1949 a 1975, quando o local encerrou suas atividades em decorrência da poluição ambiental que assolava a região do ABC paulista: “Uma densa nuvem formada por gases expelidos por uma fábrica não identificada colocou em pânico, ontem pela madrugada, a população de cinco bairros de Santo André” [2].

O Haras foi vendido para o Instituto de Orientações às Cooperativas Habitacionais de São Paulo (INOCOOP) em 1976. Entretanto, a Lei n° 4.951/1975, que estabelecia a preservação da vegetação da região, impôs restrições rigorosas e inviabilizou economicamente o empreendimento imobiliário do INOCOOP que, até 1985, ficou em processo, em razão do fechamento do Banco Nacional Habitacional, financiador do conjunto habitacional.

Durante os anos de embates jurídicos, com construção e reconstrução de acordos financeiros e adequação à legislação, houve o movimento em defesa da Chácara da Baronesa, liderado por Vera Lúcia Rotondo, também chefe da Divisão de Projetos Especiais da Secretaria de Habitação e Meio Ambiente de São Bernardo, com o apoio do Partido Verde, junto às prefeituras de Santo André e São Bernardo. Em consequência disso, declarou-se a Área de Preservação Ambiental – APA após a aprovação da Lei 5.745, de 10 de julho de 1987, com objetivo de “preservar o patrimônio histórico e cultural representado pelos equipamentos de um antigo haras existente no local” [3].

Em 1986, foi aberto o processo de tombamento pelo CONDEPHAAT, de n° 25.054/1986, finalizado em 1990, justificado pela importância ambiental da área verde preservada, além das edificações vinculadas ao antigo haras. A Resolução Complementar SC-32, de 16/7/07, no livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico com inscrição nº 22, p. 306, 10/07/1990, descreve: “O tombamento do Haras justifica-se pela importância ambiental da sua área verde, uma das únicas inseridas em região intensamente urbanizada. Destacam-se também diversos equipamentos construídos exclusivamente para a criação de cavalos: cocheiras, pistas de adestramento etc.” [4].

Em 1989, a prefeitura declarou, novamente, o Haras como área de utilidade pública, onde haveria a implantação de um parque estadual. Porém, nesse mesmo ano, a região foi ocupada por moradores, impedindo o prosseguimento.

Pela Lei n. 10.861, de 31 de agosto de 2001, a área foi designada como Parque Estadual Chácara da Baronesa, tombada em âmbito municipal pelo órgão responsável em identificar, pesquisar e proteger o patrimônio cultural, o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André (COMDEPHAAPASA), inscrito no livro de tombo sob o n. 20, processo n. 320/1995-5, e data de tombamento 10/04/2012 [5]. No processo administrativo n. 320/1995-7, há explanação sobre quais edificações são tombadas: orquidário, quiosque, cocheiras, entre outras.

Nesse sentido, todas as obras de construção, demolição e reforma devem ser analisadas pelo corpo técnico e, consequentemente, autorizadas pelo Conselho. Ademais, há as diretrizes para as edificações localizadas no haras:

  • Recuperar as condições de uso e estabilidade;
  • Preservar o volume, vedando construções de anexo;
  • Preservar as fachadas, inclusive os vãos e as aberturas;
  • Preservar as características originais no que se refere ao material construtivo do acabamento de esquadrias (madeira), da estrutura de telhado (madeira), da cobertura (telhas francesas de barro), de acordo com os registros contidos no processo.

.

Atualmente, o conjunto arquitetônico é constituído de casa principal com piscina desativada, pastagens fechadas e cercadas por árvores, três grupos distintos de cocheiras e vacarias com baias para cavalos de corrida, um depósito, quartos para empregados, além de trilhas em estado precário e parcialmente em ruínas (Fig. 1).

Fig. 1. Antiga cavalaria do Haras São Bernardo (fonte: Foto das autoras, 2022).

Metodologia

Esta pesquisa iniciou-se com o estudo das referências bibliográficas sobre o antigo haras e as famílias envolvidas no seu histórico. Para tanto, foi realizada a visita ao museu e à biblioteca de Santo André, onde foi possível encontrar recortes de jornais relacionados à chácara e às famílias Crespi e Von Leithner, além de buscas nos cartórios de registros de imóveis nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo. Além disso, realizamos uma investigação ao museu e ao COMDEPHAAPASA, que disponibilizou o processo de tombamento digitalizado.

Após a leitura do material, ocorreu a primeira visita in loco para a análise do estado atual das edificações tombadas. Em seguida, para o maior aprofundamento do conhecimento das edificações, foram extraídas amostras de argamassas, analisadas em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Posteriormente, desenvolveram-se laudos de composição, traço provável e granulometrias junto ao Núcleo de Tecnologia da Preservação e Restauração (NTPR).

Mediante a presença aparente de diversas camadas de pigmentos distintos, foram realizadas prospecção das camadas pictóricas nas paredes internas das cocheiras. Depois, com o mapa de danos como foco, foram realizadas visitas técnicas para o levantamento métrico, de junho a novembro de 2022, tornando possível o desenvolvimento de desenhos das fachadas externas, detalhando todas as manifestações patológicas existentes (Fig. 2).

Fig. 2. Manifestações patológicas (fonte: Foto das autoras, 2022).

Prospecção pictórica

Os levantamentos das informações cromáticas traduzem-se em pesquisa auxiliar de grande importância para o projeto básico ou executivo de restauração, acrescentando dados para a análise da trajetória histórica da edificação e o conhecimento de seus usos, ampliando também o entendimento da concepção decorativa de seus construtores e ocupantes. No Manual de elaboração de projetos para intervenções em bens culturais, móveis e integrados, versão DEPAM – de fevereiro de 2018, são apresentadas as seguintes recomendações:

As prospecções objetivam fornecer dados que ampliam o conhecimento do bem, a identificação de materiais e a tecnologia construtiva, as camadas estratigráficas e as possíveis intervenções anteriores, permitindo análises e deduções de hipóteses de diagnóstico, bem como oferecer alternativas de soluções de projeto. Sobretudo, elas auxiliam o diagnóstico e a proposição de intervenção [6].

A arquitetura do haras permaneceu com a mesma finalidade até a cessação das atividades do criadouro de cavalos. Isso torna as informações cromáticas identificadas sobre suas paredes semiarruinadas mais expressivas, porque atestam a importância de seus espaços, principalmente para seus administradores, que realizavam ações de conservação sazonais na forma de repinturas.

A existência ou inexistência de decoração expressa gostos de época, preferências estéticas, assim como a relevância econômica, social e cultural de determinada edificação ou espaço construído. Quando a mentalidade dos usuários de uma edificação se atém ao viés da eficiência econômica dos espaços, os recursos são investidos em pequena monta e com menos apuro técnico ou criatividade artística, haja vista a decoração exigir mais trabalho e mais insumos, culminando em aumento de custos.

Tanto nos espaços das baias de cavalos quanto nos corredores e, principalmente, nas áreas de uso comum da edificação, foram encontradas diversas camadas pictóricas nas paredes internas, faixas coloridas em uma ou mais cores que mudaram de matizes ao longo do tempo, mas, pela quantidade de repinturas, demonstram, de modo inequívoco, o apreço e o esforço de manutenção devotados à edificação.

As ações de conservação foram além da aplicação mecânica de uma cor “higienizadora” e incluíram uma pintura zelosa e setorizada, sempre entremeada por uma faixa de cor, conferindo graça e destaque aos espaços de circulação. As investigações das películas de pintura aplicadas sobre as paredes identificaram 8 camadas de cor conforme a tabela 1 abaixo, considerando o nº 1 a camada mais antiga e profunda aplicada, ou seja, a camada decorativa original.

Tabela 1: Películas de pintura aplicadas sobre as paredes haras (fonte: autoras, 2022)

Em face do profundo desgaste dos revestimentos das paredes que, há muitos anos, estão expostas às intempéries em razão do arruinamento dos telhados, não foi possível realizar uma sequência estratigráfica contínua (Fig. 3). Assim, foram necessários mais de 6 pontos de investigação, para compreender a sequência de estratos de cor sobrepostas e definir o tom da cor e sua intensidade realista, haja vista o desbotamento das películas. Em razão da notória fragilidade, medidas auxiliares, tais como o uso de lente de aumento, a iluminação de cabeça e o emprego de processos mecânicos, mostraram-se seguras e confiáveis, descartando o perigo da penetração de solventes e decapantes entre camadas de pintura, além de possíveis alterações na leitura das cores.

Fig. 3. Prospecção de camadas pictóricas – interior da edificação (fonte: Foto das autoras, 2022).

Ademais, no Manual de elaboração de projetos para intervenções em bens culturais, móveis e integrados, versão DEPAM, são explicitadas as preocupações que o profissional restaurador deve ter com a finalidade de captação de informações, sempre de forma criteriosa e justificada: “A necessidade de realização de prospecções, considerando ser um procedimento de investigação interventivo, deverá ser devidamente ponderada. O método – mecânico ou químico –, escolhido para a prospecção deverá estar definido e justificado no projeto” [7].

Ensaios laboratoriais

Os ensaios laboratoriais representam uma fase de grande importância para o desenvolvimento de um projeto de restauração. Mediante os resultados obtidos, estabeleceram-se quais medidas precisam ser tomadas sobre os revestimentos a serem aplicados no edifício. Assim, a etapa de análise dos ensaios laboratoriais teve início com a coleta de amostras de argamassa do edifício em questão, medindo 20cm x 20cm, autorizada pelos administradores do Parque Estadual Chácara da Baronesa, próxima à área que já estava em processo de destacamento (Fig. 4).

Fig. 4. Área de retirada das amostras de argamassa e identificação (fonte: Foto das autoras, 2022).

Em seguida, foram retiradas três amostras de diferentes pontos da edificação, denominadas PECB 01, PECB 02 e PECB 03 (Fig. 5).

Fig. 5. Planta esquemática indicando local de retirada das amostras (fonte: Autoras, 2022).

Após a retirada, as amostras foram devidamente armazenadas, identificadas e enviadas para o Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração, pertencente à UFBA, onde foram analisadas em um ensaio simples de argamassa. Os resultados foram obtidos logo em seguida e encontram-se listados abaixo.

PECB01

PECB02

PECB03

Pelas análises das três amostras coletadas em diferentes ambientes da antiga cavalaria, 80% são argamassas à base de cal [8]. Isso pode ser observado em todas as análises dos ensaios simples de argamassa.

A conservação ou intervenção, pontual ou parcial, deve ser sempre a primeira opção em vez da remoção e substituição total. Muitas vezes, os revestimentos antigos apresentam sinais de degradação somente superficiais e é possível limpar, conservar, consolidar, reparar lacunas e fissuras, antes de realizar intervenções radicais e irreversíveis. Dependendo do valor do edifício, das características das argamassas e dos revestimentos e de seu estado de conservação, bem como das opções econômicas, de mão de obra e dos materiais disponíveis, devem ser avaliadas as alternativas, e definidos os critérios de intervenção para a conservação e a restauração das argamassas e dos revestimentos das alvenarias antigas. [9]

A vantagem de usar materiais à base de cal é o fato de que envelhecem sem provocar danos, apresentam boa porosidade e permeabilidade, resistência mecânica, inércia térmica e durabilidade. Pelo grande volume de poros grandes, secam rápido, não retêm umidade e deixam a parede respirar, o que impede a condensação da umidade nos ambientes. Além disso, a desagregação das alvenarias pela cristalização dos sais no interior da parede ocorre na superfície, onde os resíduos podem ser retirados a seco [10]. Assim, faz-se necessária a avaliação e a composição do traço da argamassa para futura recomposição, pois mesmo que não haja a mesma fonte dos materiais, a aproximação da proporção dos materiais e as características devem ser compatíveis [11].

Mapa de danos e situação atual de conservação e preservação

Levantamento direto

O levantamento foi realizado presencialmente durante o ano de 2022. A equipe utilizou instrumentos de medição, com trena de fita e trena laser. Para a anotação dos dados coletados, o grupo criou eidotipos – desenhos esquemáticos das fachadas e elementos da construção que permitem breve representação dos elementos medidos – de todas as fachadas e elementos analisados, como forma de registrar e documentar o processo de levantamento. Com essa finalidade, o grupo também contou com instrumentos de desenho, como prancheta, folha sulfite, lápis e caneta, para possibilitar a realização dos registros. As fotografias foram feitas por câmeras de celulares smartphones, entre os meses de junho a novembro de 2022. O estudo foi realizado na cocheira principal da Chácara. Sua construção é de alvenaria com estrutura do telhado em madeira coberta com telhas francesas e portas de madeira.

Análise da cobertura

Os principais problemas encontrados são a ausência de estrutura de madeira e a falta de telhas francesas, colocando em risco os usuários do local. Esses problemas ocorrem principalmente na parte central da edificação. Em consequência, as águas pluviais contribuem, negativamente, com a deterioração do edifício, uma vez que há o acúmulo nos tijolos, tornando o ambiente favorável para o crescimento de vegetação (Fig. 6).

Fig. 6. Desenho esquemático da cobertura (fonte: Autoras, 2022).

Fachadas laterais esquerda e direita

As principais manifestações patológicas que encontramos foram o destacamento e o desgaste das camadas de pintura em decorrência do sol excessivo e da falta de manutenção. Sem a cobertura, notamos, em alguns pontos, a infiltração e o apodrecimento parcial da madeira nas laterais e, consequentemente, a falta das telhas. Os vidros das esquadrias, na parte superior das portas, fazem parte dos elementos ausentes a serem completados. Em alguns pontos das fachadas, é possível verificar que foram feitas recomposições de argamassa com traços diferentes e, em outros trechos, é possível ver os tijolos, pois o destacamento da argamassa não foi refeito (Fig. 7).

Fig. 7. Mapa de danos – fachada lateral direita (fonte: Autoras, 2022).

Verificamos a inserção de argamassa não original, ou seja, com traço diferente, a argamassa com cimento Portland, que apresenta problemas pela incompatibilidade de propriedades, em relação aos materiais construtivos tradicionais.

As argamassas de cimento endurecem rapidamente, o que nem sempre é uma vantagem quando aplicadas nas estruturas antigas que se acomodam lentamente às ações do tempo e das intervenções, além de eventualmente provocarem danos a tais estruturas. Os potenciais danos causados pelas argamassas de cimento são decorrentes de sua porosidade, inferior à das argamassas à base de cal, e de a maior parte do volume dos poros ser formada por microporos com maior força capilar e maior impermeabilidade, o que provoca maior retenção de umidade nas paredes [12].

Além disso, a inserção de argamassa não original modifica as características da textura, da cor e da reação química e mecânica, causando o destacamento e as fissuras nas áreas de contato com a argamassa antiga (Fig. 8).

Fig. 8. Mapa de danos – fachada lateral esquerda (fonte: Autoras, 2022).

Fachadas frontal e posterior

Há vegetação de pequeno e médio porte na edificação, junto às áreas mais úmidas onde não há cobertura, por isso há o frequente acúmulo de água e o contato com os tijolos, ou seja, é um ambiente favorável para o crescimento de plantas. Há inserção de calhas e rufos, entretanto, pela ausência da cobertura, não é possível o funcionamento adequado como um sistema de coleta de águas pluviais. As trincas que encontramos na realização desta pesquisa, entre junho e novembro de 2022, são oriundas de pressão exercida pelas raízes da vegetação presente, e as fissuras são em decorrência do desgaste e da falta de manutenção (Fig. 9).

Fig. 9. Mapa de danos – fachada frontal (fonte: Autoras, 2022).

No projeto de restauro, está prevista a investigação aprofundada sobre as coberturas, principalmente na fachada frontal acima da esquadria, onde seria possível a existência do brasão da família ou uma esquadria de madeira para acesso ao galpão. Em relação à fachada posterior, há indícios, de acordo com as imagens antigas da edificação e as marcas de fixação, conforme indicados no mapa de danos, de uma cobertura acima da esquadria (Fig.10). 

Fig. 10. Mapa de danos – fachada posterior (fonte: Autoras, 2022).

Considerações Finais

Este artigo apresenta os resultados de pesquisa de iniciação científica realizada pelo Instituto Federal de São Paulo (IFSP), junto ao Núcleo de Estudos do Patrimônio Imaterial e Material (NEPIM), em parceria com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA), do governo do estado de São Paulo. Tal estudo possibilitou o desenvolvimento e o mapa de danos como forma de analisar a configuração atual de manutenção e conservação de parte do conjunto do Parque Estadual Chácara da Baronesa, antigo Haras São Bernardo. As visitas propiciaram a retirada de amostras para ensaios laboratoriais, a fim de descobrir o antigo traço, além da investigação e da prospecção das camadas pictóricas.

O levantamento direto executado permitiu elaborar o mapa de danos como forma de documentação e fonte para pesquisas posteriores. Com isso, observam-se as principais manifestações patológicas encontradas em cada fachada, como o destacamento de argamassa, o desgaste de pintura, a presença de vegetação de médio porte e a reposição indevida de argamassa com cimento Portland. As duas primeiras advêm da exposição constante a intempéries e da falta de manutenção, enquanto a última indica a ação humana de maneira indevida na construção. Com a ausência da cobertura, é possível notar a presença de vegetação de pequeno e médio porte na edificação, com as raízes danificando parte da argamassa nas paredes, causando o destacamento e deixando os tijolos aparentes e desprotegidos.  

A importância da realização do mapa de danos como ação que antecede o projeto de restauro demonstra as principais manifestações patológicas e as possíveis causas. Com esta pesquisa, as visitas in loco e a realização do mapa de danos, percebemos qual é a situação real da conservação da edificação, quais são os problemas e as soluções do projeto de restauro.

A nossa proposta é a menos intervencionista possível, pois é a favor da conservação e da manutenção preventiva. Seguimos com o projeto de um trabalho científico, a identificação e a catalogação das telhas existentes, a inspeção para o refazimento da cobertura, a análise mecânica das peças de madeira, a verificação para substituição das esquadrias e a reconstituição de partes desgastadas.

A antiga Chácara da Baronesa exerce um papel relevante para os municípios de Santo André e São Bernardo e para a região do ABC de São Paulo. Atualmente, o Parque Estadual Chácara da Baronesa é tombado em âmbito municipal e estadual, não apenas por ser uma área verde, uma vez que já foi considerado o pulmão da região, mas também, historicamente, por ser local de movimentação popular e existirem construções habitacionais em seu redor. Assim, esta pesquisa torna-se um documento mediante o levantamento fotográfico e o mapa de danos, com fins de preservação ambiental, cultural, histórica e da memória.


Notas

[1] COMDEPHAAPASA. Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André. Processo de Tombamento (PA_320_1995-7 Tombamento Haras -São Bernardo). Santo André,1995.  

[2] Idem.

[3] Idem.

[4] Idem.

[5] Idem.

[6] IPHAN. Manual de elaboração de projetos para intervenções em bens culturais, móveis e integrados. Coordenação-Geral de conservação. Coordenação do projeto e elaboração dos textos: Ana Claudia Vasconcellos Magalhães. Versão DEPAM, fev. 2018.

[7] Idem.

[8] Muitos componentes foram empregados como aglomerantes de argamassas, como a argila, o gesso e a cal. Há evidências do uso da cal desde as culturas mais antigas (Grécia e Egito; incas e maias). A disponibilidade e o fácil uso fizeram que tais materiais fossem utilizados como componentes básicos para argamassas e rebocos. Em alguns lugares, o nível de conhecimento chegou a produzir obras de grande valor e sofisticação artesanal. As argamassas antigas também foram produzidas com misturas de aglomerantes mediante a adição de agregados de natureza pozolânica, natural ou artificial, ou com mistura de cal hidráulica, fabricada de calcários impuros (calcário argiloso). No século XVIII, particularmente na segunda metade, desenvolveram-se as tecnologias da cal hidráulica e dos cimentos naturais. KANAN, Maria Isabel. Manual de conservação e intervenção em argamassas e revestimentos à base de cal. Cadernos Técnicos, vol. 8. Brasília: Iphan / Programa Monumenta, 2008, p.19.   

[9] KANAN, op. cit., 2008.  

[10] Idem.

[11] Ser compatível significa conciliar propriedades físico-químicas e estéticas, sem, obrigatoriamente, usar materiais idênticos. A compatibilidade deve ser referente aos materiais do substrato e aos em contato. KANAN, op. cit., p. 24.

[12] KANAN, op.cit., p. 26.


Elaine Ferreira Chagas

Restauradora formada em Belas Artes pela UFRJ.  Atuante em obras de restauração de bens integrados desde 1992. Pós-Graduada em Ciência e Engenharia de Materiais – Faculdade Unyleya. Voluntária de iniciação científica PIBIFSP 2022. E-mail: elainerestauradora@yahoo.com.br

Larissa Fernandes Morais

Arquiteta e urbanista pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), DCC/ IFSP Campus São Paulo. Voluntária de iniciação científica PIBIC SP 2022, São Paulo, SP. E-mail: larissamorais.ifsp@gmail.com

Anny Falcão Schwendler

Graduada em Direito pela Universidade Federal da Paraíba, pós-graduada latu sensu em Direito Urbanístico e ambiental pela PUC-MG. Pós-graduada latu sensu em Direito imobiliário pela EBRADI. Mestra em Direito Econômico pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba, com projeto dedicado à temática do patrimônio cultural, intitulado Aspectos tridimensionais do tombamento. Doutoranda em Direito tributário, econômico e financeiro pela USP. Voluntária de iniciação científica PIBIC SP 2022, São Paulo, SP.  E-mail: annyhvfalcao@usp.br

Fernanda Bueno Silva

Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, DCC/IFSP Campus São Paulo. Voluntária de iniciação científica PIBIC SP 2022, São Paulo, SP. E-mail: fernanda.bueno@aluno.ifsp.edu.br

Thais Cristina Silva de Souza

Doutora (2018) e mestra (2011) na área habitat, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP). Pós-graduada em Restauração de Patrimônio Histórico (UNICSUL). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Nove de Julho (2003). Docente do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de SP, desde 2014. Líder do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos do Patrimônio Imaterial e Material (NEPIM). E-mail: thais.souza@ifsp.edu.br

Izabelle Bianca Uyeda

Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, DCC/IFSP Campus São Paulo. Bolsista PIBIC SP 2022, São Paulo, SP. E-mail: izabelle.uyeda@aluno.ifsp.edu.br


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