| Regina Helena Vieira Santos |
Este artigo é fruto de uma releitura crítica de bibliografias sobre a história dos paradoxos do Beco do Colégio, posteriormente Beco do Pinto, praticamente invisível na metrópole de São Paulo. Ulrich Beck nos leva refletir sobre as transformações que acontecem nos espaços urbanos paulistanos, como neste remanescente do período colonial brasileiro: “Todos nós sabemos que a lagarta irá se metamorfosear numa borboleta. Mas será que ela sabe disso?” [1].
O beco em questão não é exatamente conforme a definição da palavra. De acordo com o dicionário da arquitetura brasileira de Corona & Lemos [2], beco é uma rua estreita e curta, geralmente sem saída, fechada numa das extremidades. Entretanto, o Becco do Collegio, com a grafia assim encontrada algumas vezes, é uma das passagens estreitas da colina onde foi estabelecido o Colégio dos Jesuítas, começa na antiga rua de Santa Thereza, posteriormente rua do Carmo, e desce para o rio Tamanduateí ou a várzea do Carmo, como ficou conhecida.
Uma investigação preciosa em documentos como as Atas da Câmara Municipal, da coleção de Papéis Avulsos do acervo do Arquivo Municipal de São Paulo, sobre o espaço público do Beco do Colégio, foi feita pelo historiador Nuto Sant’Anna e publicada na Revista do Arquivo Municipal em 1935. O artigo começa contando sobre Santo André da Borda do Campo, estabelecida pelo João Ramalho, que:
Em 1553, obteve ela o floral de Vila por provisão do governador geral Thomé de Souza. E um ano depois, a três léguas desse logarejo em que floresceu a bravura dos Garcia Rodrigues, dos Cubas e dos Fernandes – Manoel de Paiva e os seus doze companheiros de jornada e de fé, entre os quais depois avultou grandemente a estatura iluminada de José de Anchieta, levantaram, exatamente no ângulo agudo formado pela confluência do Tamanduateí e do Anhangabaú, o Colégio e a Igreja do Bom Jesus – a “célula mater” da capital paulista (sic.). [3]
Continua o texto advertindo sobre São Paulo do século XVI como um emaranhado de ruas longas e curtas, além dos muitos becos:
[…] As vezes, as ruas que uniam os pontos cardeais ao agrupamento inicial em torno do Colégio dos Jesuítas, ainda coberto de palha, não passavam de vielas estreitas e irregulares, de pequeníssimos becos, de exiguíssimas azinhagas”[…]“…os becos da Lapa, do Bom Jesus, do Inferno, da Cachaça, das Cazinhas, do Palacio, do Bispo, dos Mosquitos, dos Cornos, o Sujo, o da Casa Santa, o das Sete Voltas, o do Mata Fome e o do Porto Geral, sendo que este, em certos períodos, foi também conhecido por – do Barbas e do Quartim (sic.) [4]
Na obra rara “São Paulo Antigo 1554-1910”, Antonio Egydio Martins faz referência: “Na rua do Carmo, desde tempos immemoriaes, existe também um becco, denominado por uns – do Collegio, e por outros – do Pinto, o qual foi aberto para servidão da várzea do Carmo, tendo 19 palmos e meio de largura” [5]. Ernani Silva Bruno em “História e Tradições da cidade de São Paulo” escreve que o leito dessas primeiras ruas e desses vagos “pátios da vila” a que se referiam atas da Câmara, em 1563, era constituído decerto pelo solo em seu estado praticamente bruto, conhecido como “a terra nua”. As chuvas, as enxurradas causavam estragos, como buracos e valas, nas humildes ruas, caminhos, becos… os vereadores paulistanos já no final da era quinhentista exigiam que o meio-fio das ruas fosse ladrilhado, isto é, calçado com tijolos, para que a água das chuvas pudesse correr à vontade [6].
Lindeiro ao beco há dois sobrados com numeração cívica primitiva 3 e 4. Na pesquisa da historiadora Beatriz Piccolloto Siqueira Bueno sobre a décima urbana [7] havia dezessete casas situadas na Rua de Santa Thereza, na lateral para o rio Tamanduateí, sendo o sobrado de numeração cívica n.1 de propriedade da D. Angela Eufrazia da Cunha e o sobrado n.2 da inquilina D. Clara Maria Buena. O sobrado n.3 era propriedade do Manuel Jozé Gomes, com 2 lanços e 1 andar, e valor 11$520; o sobrado n.4 de propriedade do Joaquim Jozé Pinto de Moraes, com 3 lanços e 1 andar, no valor 24$000. Geminado a este estava o sobrado do Dr. Jozé Ignácio Alvares de Castro, com um lanço e um andar no valor 17$280; o de número 6 era do inquilino Tenente João de Almeida, e assim continua. A numeração cívica passou por alteração, algumas casas foram sumindo no espaço. Pelos estudos feitos na iconografia existente da época, entre 1821 e 1827, os dois sobrados de números primitivos 4 e 5 foram unificados pelo proprietário Joaquim Pinto, tornando-se um sobrado sob número cívico 3 da Rua do Carmo. Este, em 1834, foi vendido à Domitila de Castro Canto e Mello. Em 1876, “Felício Pinto Coelho de Mendonça e Castro, proprietário do prédio 79 da rua do Carmo que […] por herança de sua finada mãe a Marquesa de Santos, […]” assina uma solicitação para resolver o muro de divisa do quintal para a rua “em frente a Ilha dos Amores […]” [8]. O imóvel se tornou Palácio Episcopal [9], em 1880, com atividades administrativas no térreo e residência do bispo na parte superior. Novas reformas foram realizadas no sobrado em 1890 [10]. Foi adquirido pela The San Paulo Gás Company, Limited (Companhia de Gás de São Paulo), em novembro de 1909, e permaneceu como sede da empresa até 1975.
Durante o século XIX, o beco foi espaço público que vivenciou certame por parte dos vizinhos, escreveu Nuto Sant’Anna, conforme busca-se aqui sintetizar para compreensão do contexto. Por volta de 1820, foi feito um primeiro requerimento para ser mantido o beco aberto para a utilidade pública, “não só para, como para harmonizar aqueles ricos proprietários, que, por causa do beco, não viviam em boa paz” a vereança pediu que:
sejam notificados os moradores daquelle logar para apresentarem o título por onde fecharam o beco entre as casas do brigadeiro Joaquim José Pinto de Moraes Leme, e o falecido coronel Manuel José Gomes com a pena de não fazendo se demolir o portão que ali se acha em prejuízo do público. […] (sic.) [11]
Em seguida, no ano 1821:
…E não se trata de nenhuma representação da Câmara ao povo, contra o prejuízo causado pelo desvio das águas pluviais. […] D. Maria Clara Gomes … requeria ao mesmo Governo que esta Camara fizesse vistoria no becco que se acha fechado entre as casas do brigadeiro Pinto e de D. Maria Clara Gomes, e que o governo por seu despacho de 1º. de agosto deste anno (1921) mandou que procedesse á dita vistoria como pelo dito conego foi requerido (sic.) [12]
Prossegue o registro de informação:
Consta-nos que o dito beco fora de publica servidão em outro tempo prestando ao publico grande utilidade pela breve passagem, que dava para o rio, hoje porém se acha fechado por um muro com portão para a parte da casa do brigadeiro Pinto sem que apareça documento nesta Camara que autorize semelhante fecho, a qual se dá servidão. O brigadeiro Pinto alargou o seu quintal tomando quase metade da largura do beco, desdizendo muito o muro que fez no dito quintal, do outão da sua casa, podendo causar prejuízo à casa de D. Maria Clara Gomes. […] 25 de agosto de 1821 […] (sic.) [13]
O brigadeiro Pinto entrou com requerimento pedindo vistas do procedimento e obteve o despacho: “que apresentasse o documento que obteve deste Senado no anno de 1809 para fechar o becco que fica entre as propriedades dele brigadeiro, e D. Maria Clara Gomes, de quem é procurador o dito conego José Gomes” (Atas, XXII, 512) [14], na pesquisa de Nuto Sant’Anna não foi encontrado nenhum documento de 1809.
Em 19 de setembro de 1821, o brigadeiro foi notificado para abrir o beco ou o portão que existia ali entre sua casa e a de D. Maria Clara Gomes, além de demolir paredão que fez dentro do beco, recuando para o alinhamento do dito outão de sua casa para dar servidão ao público (Atas, XXII, 515). Em 3 de dezembro de 1825, o Juiz de Fora redigiu a portaria ao juiz almotacé: “ordenando que fosse ao beco que de Santa Tereza vae ao Tamanduatey e examinasse e desse as providencias necessarias sobre uma taipa que está fazendo o brigadeiro Pinto nesse becco, tapando-o” [15]. No dia 14 de março de 1826, o juiz capitão-mor oficiou o juiz almotacé e arruador:
afim de se ir ao Beco do Collegio e tirar-se as medidas das larguras das casas do Pinto e Padre João” (R.G. XVIII, 464). Recomenda: “distinctamente o número de braças, ou palmos que tem cada frente das casas dos ditos quintaes para fora do murado e observando-se igualmente se os muros de cada um dos contendentes descem pelo beco abaixo e em linha recta de suas frentes, e qual dos muros desce em linha obliqua e diagonal para o beco (sic.) (R.G. XVIII, 465) [16]
Nuto Sant’Anna levanta que a situação estava se complicando, pois a princípio queriam a abertura da frente do beco para fluir a passagem das águas pluviais, porém surgiu a possibilidade de o muro em diagonal do brigadeiro Pinto estreitar o beco chegando a invadir a propriedade do cônego João Ramalho. Em 30 de março de 1826:
se deliberou, que se expedisse ordem à mesma Camara para mandar executar o que por ella foi ultimamente determinado a respeito da servidão publica do beco denominado do Collegio, fazendo com que o dito brigadeiro ponha os muros do seu quintal pelo estab digo alinhamento estabelecido pelo Juiz Almotacê, em cumprimento das vistorias a que procedera a dita Camara, e quando assim não cumpra dentro de três dias, que novamente se lhe devem conceder para esse efeito, manda a referida Camara fazer a obra à custa dele participando do resultado ao Excellentissimo Conselho” (sic.) (R.G. XVIII, 492) [17]
Sendo assim, o Senado da Câmara expediu ao juiz almotacé um oficio determinando que deitasse a taipa do brigadeiro Joaquim José Pinto de Morais Leme: “…ao beco do Collegio, e faça demolir o muro do brigadeiro Joaquim José Pinto de Moraes Leme, que fica dentro do alinhamento do beco na forma do accordaram da vistoria de nove de fevereiro deste mesmo anno” (sic.) (R.G. XVIII, 496) [18]. Nesta ocasião a cidade se restringia à colina margeada pelo rio Tamanduateí e pelo ribeirão Anhangabaú com cerca de 25 mil almas. Em 12 de abril de 1926, foi que o juiz almotacé determinou que a taipa fosse abaixo. Enfim o beco estava reaberto e realinhado [19]: “… trabalharam os demolidores dois dias e meio ficando concluída no dia quinze conforme arruamento e se fica a fazer a conta para mandar apresentar ao dito brigadeiro” (R.G. XVIII, 497) [20]. Nuto Sant’Anna escreveu:
E por aí começaram livremente a transitar de novo, rumo do Tamanduateí e da várzea lá em baixo, pedestres, escravos e lavadeiras. Assim o tinham feito os antepassados daquela geração, desde o dia em que, por ali mesmo, em 1554, subiram, transportando água para a edificação da Igreja do Bom Jesus e do Colegio dos Jesuítas, os serventes do padre pedreiro Afonso Braz, que eram os índios, súditos de Tibiriçá. E por ele teriam passado também, talvez, os companheiros de luta, de glória e de fé, de Manoel de Paiva e de José de Anchieta, ou seja, todos os fundadores de Piratininga” (sic.) [21]
Entretanto, o sobrado que pertenceu ao Brigadeiro Pinto, em 1834, estava sob posse da Marquesa de Santos, que faz um novo requerimento à Câmara para “uma conciliação a respeito do levantamento de um muro no quintal de sua propriedade” (Papéis Avulsos 1834). O vereador Mattos, em 1835, dirigiu-se à Câmara com um bilhete escrito a lápis oferecendo uma minuta com um breve relato dos fatos anteriores e enfatiza o alinhamento em favor da utilidade pública:
[…] Em prova da utilidade Publica, que deve resultar do recto alinhamento absorvendo, talvez 15 a 18 palmos na maior latitude do fundo d’aquelle quintal, e muito menos gradualme. pa. Cima até fazer face a linha lateral da mma. Casa da Proprietária: em prova pois da utilidade Publica, basta refletir-se que ali aproximadamente está o Rio Tamanduatehy, único em proporções suficientes pa. todos os usos necessários ao Povo desta Capital; e sendo o Bêco em questão localizado na extrema central das principaes ruas, é pr. consegte. Inegável, não só a utilidade, mas até mesmo palpável necessidade Publica […]” (sic.) [22]
Este documento também pertence ao acervo dos Papéis Avulsos do Arquivo Histórico Municipal. Isto resulta de uma ação contra a Câmara movida pelo brigadeiro Pinto e continuada pela nova proprietária do sobrado n.3. Como escreveu Nuto Sant’Anna: “[…] papeis vão e vem, discute-se, prossegue a ação entre a Camara e a Marqueza de Santos”. Assim, em sessão extraordinária em agosto de 1837: “[…] sentença obtida contra a Camara […], mudando-se a direção do muro q’ a Cama. deve levantar de maneira que se tire a tortuosidade que havia, […]” [23], enfim a Marquesa derrotou o Senado da Câmara.
Consta na ata de 11 de novembro outro requerimento da Marquesa para o muro ser estendido no alinhamento do seu quintal até o Rio, foi deferido. Observa-se que, com todos esses documentos, o beco foi reaberto em 1837, em linha reta, com 19 palmos e meio de largura, no alinhamento entre as casas n.3 e casa n.2 da rua de Santa Thereza. Após doze anos, em 1849, o vereador Rodrigues dos Santos indicou que:
q’ se mandasse proceder o roçamento do aterro e o calcamto do bêcco entre a Casa da Marquesa de Stos. e do fallecido Dr. Moura afim de dacilitar a descida dos que teem a lanchar lixo na várzea, o q’ não fazem pr. Causa do máo estado do dto becco (sic.) [24]
Ainda neste ano o mesmo vereador apresenta o projeto:
Que se mande levantar um portão na entrada do Becco, entre as Casas da Marqueza de Stos. e qe. Se conservará aberto dure o dia e se feixará á entrada da noite incubindo-se á um dos proprietros mencionado a guarda da chave, obrigando-se a mandar fazer com regularide. o serviço de abrir e fechar ás indicadas horas o mencionado Portão. […] [25]
Não se sabe se foi feito o portão nessa ocasião. Durante os anos de 1846 a 1849, o filho primogênito da Marquesa, Felicio de Castro, casado com D. Anna Alves de Oliveira, foi eleito deputado para a Câmara Provincial. No ano 1850, a Câmara resolveu designar pontos de despejo dentre os quais: “Becco da Marqueza de Stos. no fundo do quintal da Casa do fallecido Dr. Moura”. Porém, ainda em 1855, o beco estava “franco ao publico”(sic.) [26]. E assim conclui o historiador Nuto Sant’Anna:
O beco, afinal existe em seu delineamento primitivo – […] tendo sido uma das ruas de São Paulo de 1554 – e exatamente aquela por onde se conduziu a água para se edificar a Igreja do Colegio e, depois, abastecer o povoado de Tibiriçá, de Manoel de Paiva e de José de Anchieta, pelo que, sem dúvida, não deixa de ter o seu valor histórico. É o que ainda resta de São Paulo de Piratininga… São Paulo, 1935. [27]
O texto publicado em 1968 pelo arquiteto Carlos Lemos resume: “O portão foi aberto, depois fechado e novamente aberto. […] Enfim, a história do beco é comprida e monótona” [28]. Quando Antonio Egydio de Martins escreveu São Paulo Antigo, em 1910, o beco estava fechado, já sob propriedade da Companhia de Gás de São Paulo, ficando abandonado e fechado por várias décadas do século XX. A ladeira do Carmo foi aberta em 1912, atual Avenida Rangel Pestana, por onde passou a ser a circulação da colina para a várzea. Conforme documentos do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo, o Beco foi reaberto à circulação do público em 1992, após obra de restauro arquitetônico e arqueológico.
Foi firmado um convênio que perdurou de 1979 a 1992 entre a Prefeitura do Município de São Paulo e o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, intitulado “Programa de Arqueologia Histórica no Município de São Paulo”, quando o DPH era dirigido pelo arquiteto Dr. Murillo de Azevedo Marques, atendendo a uma política cultural de preservação de bens culturais, com escavações arqueológicas sob a coordenação da Profª. Drª Margarida Davina Andreatta. Esse trabalho possibilitou posteriores escavações, como em 2008-2012, com a participação da arqueóloga Lúcia Juliani e a implementação do Centro de Arqueologia do Município de São Paulo sob coordenação da Profª. Drª Paula Nishida.
O projeto arquitetônico de restauro buscou vencer a declividade do terreno com a construção de 7 lances de escadas separadas por planos de piso rampados, revestidos com mosaico de pedra portuguesa e, nas escadas, pedra “miracema rústica”. O beco, hoje, possui 6 metros de largura e 66 de comprimento com duas janelas arqueológicas sendo uma para o lado da Casa 1, Museu da Imagem, e a outra para o sobrado número 3, Solar da Marquesa.
Enfim, o Beco, foi um lugar de indígenas, um eixo de circulação que facilitou a ocupação do território. Jesuítas, portugueses e tantas outras imigrações passaram por ali; um local para deambular, com diversas pavimentações e diferentes técnicas construtivas, hoje sítio arqueológico de uma cidade cosmopolita com cerca de 12 milhões de habitantes. Na visão do arquiteto Rem Koolhaas, São Paulo é uma cidade genérica na sua expansão, “…cidade libertada da clausura do centro, do espartilho da identidade” [29], com ideologia de favorecer o vertical criando zonas isoladas de grande densidade, ou seja, libertou-se deste embrião. Faz a análise onde o “espaço torna-se e-spaço” [30], o que permite concluir que o beco pode ser simplesmente #becodopinto, #becodocolegio ou @beco como @space.
Memórias diferentes, cada ser humano experimenta o espaço da sua própria maneira. O espaço é finito o seu paradoxo está nas infinitas vivências. Para Oliver Mongin a condição urbana “corresponde à época contemporânea (…), aquela que nem sempre se lembra da civilização urbana e dá lugar a uma vertigem semântica na qual os termos: metrópole, mega-cidade, megalópole, cidade-mundo, cidade global, metápolis, se confundem…” [31]. O autor constata que os fluxos se sobrepõem aos lugares para os quais a globalização impõe regras, os territórios perderam os limites. Comenta sobre a visão de Jules Romains, segundo a qual um lugar é um “permutador de ritmos”, o lugar pode ser oval, circular, retangular ou linear, a forma não é a condição para troca de energia. O espaço, independente da forma, pode estar vazio ou cheio, com poucas ou muitas pessoas.Talvez ali circule uma bicicleta ou talvez um cachorro. Diante de tudo ou nada, esse espaço denominado Beco do Pinto, tradicional Beco do Colégio, independente da escala humana estar sempre presente. Provavelmente, até 1910, o beco foi área de circulação, de confronto de desigualdades como todos os lugares públicos são, onde ideologias políticas transitaram, diversidade cultural aconteceu. Depois, fechado quando a Casa lindeira passou a ser sede da Companhia de Gaz de São Paulo, foi restaurado pelo Departamento do Patrimônio Histórico, quando foi reaberto em 1992. Aberto ou fechado o beco é um dos paradoxos da megalópole em metamorfose.
Atualmente, esse espaço nos revela um pouco da pólis invisível escavada pelos arqueólogos, faz parte da propriedade da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, junto com os dois sobrados lindeiros. Um dos sobrados é a Casa n. 1, da rua Roberto Simonsen, antes era a casa n.3 da rua do Carmo, onde abriga o Museu da Imagem. O outro é resultado da unificação dos sobrados n. 4 e n. 5, ficou com número 3, posteriormente n.79; enfim, é o Solar da Marquesa de Santos, antes sobrado do Brigadeiro Pinto, que, como dito, foi restaurado e expõe as técnicas construtivas originais da edificação com diferentes taipas, além de exposições itinerantes. Esse conjunto arqueológico e arquitetônico faz parte do Acervo Arquitetônico do Museu da Cidade de São Paulo.
Notas
Arquiteta e urbanista. Doutora, na área de História e Fundamentos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-USP; em parceria com a Università degli studi di Firenze-Italia. (2013-2017). Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2005-2008). Especialização em “desenho e Gestão do Território Municipal”, objeto de estudo Município de Itanhaém; PUC-CAMPINAS, 1997/1998. Cursou como extend student na San Diego State University – California, EUA, 1994-1996. Concluiu a graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Santos (1994). Professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FIAM-FAAM-FMU Centro Universitário. Atuou como professora colaboradora na disciplina de Laboratório de Restauro na Università degli Studi di Firenze em 2016/2017. Atualmente é pesquisadora e colabora como professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Atua como arquiteta efetiva na Secretaria Municipal de Cultura/PMSP, Departamento do Patrimônio Histórico – Museu da Cidade de São Paulo. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Restauro de Arquitetura. Membro do ICOMOS. Associada ao Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB/SP.
v.4, n.7 (2020)
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