I Jorge Eduardo Lucena Tinoco I
Questão
Durante os trabalhos da conservação do forro da sacristia da Capela de São Roque, da Ordem Terceira de São Francisco de Olinda, em madeira policromada do século XVIII, a equipe do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI), deparou-se com questionamentos quanto à aplicação das recomendações emanadas pelos teóricos do restauro nas práticas das intervenções, particularmente, no caso das lacunas e perdas nos objetos arquitetônicos, escultóricos ou pictóricos. Naquela ocasião, as discussões eram acaloradas tanto no canteiro dos serviços como nos debates que ocorriam semanalmente com os associados na sede na entidade. As reflexões sobre o tema induziram à elaboração e publicação do texto para discussão que recebeu título: Os limites do restauro: impasses projetuais [1].
Decorridos mais de uma década daquele trabalho, este autor se depara com as recorrentes dificuldades de identificar os limites e resolver os impasses para exercitar, na prática, as diretrizes da teoria de modo a conciliar os postulados dos idealistas. Isto está ocorrendo nas intervenções de conservação das pedras de cantarias do cruzeiro e dos muros do adro da Igreja de Santo Antonio do antigo Convento Franciscano de João Pessoa, na Paraíba, atual Centro Cultural São Francisco (CCSF), que vêm sendo executadas (2023), dentro do Projeto Caminhos da Fé, da Arquidiocese da Paraíba [2].
─ Quais são os impasses e os limites que desafiam o profissional gestor de restauro?
─ Como superar ambos?
Dilema
Os brandinianos são loquazes quando advogam a mínima intervenção necessária e as garantias da integridade e autenticidade do bem cultural pela legitimação do restauro, da sua materialidade. Os muñozistas, equivocadamente considerados liberais, buscam a preservação dos aspectos e das funções simbólicas dos objetos, se preocupando com os gostos e as necessidades intangíveis dos usuários. As tentativas de conciliações dessas antinomias nem sempre resultam soluções de intervenções que satisfaçam seus adeptos, configurando-se as práticas apenas recortes desse ou daquele, e até de ambos os teóricos. Ao nível institucional público, numa normativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tem-se como premissa o “respeito aos valores estéticos, históricos e culturais do Bem e, na medida do possível, pautar o projeto pelo princípio da MÍNIMA INTERVENÇÃO na autenticidade do mesmo, seja ela artística, histórica, dos materiais ou dos processos de execução” [3]. Segundo Kühl, essa diretiva remonta ao final do século XIX, com Camillo Boito, que consolidou “uma via que se contrapôs à prática difusa de tentativas de voltar a um suposto estado original, unidade de estilo, ou estado anterior qualquer (…) preconizando o respeito pela matéria original, pelas marcas da passagem do tempo e pelas várias fases da obra, além de recomendar a mínima intervenção e, no caso de acréscimos, a distinguibilidade da ação contemporânea, para que esta última não fosse confundida com aquilo que subsistia da obra, o que poderia levar o observador ao engano de considerá-la como antiga” [4].
O preceito da “mínima intervenção necessária” com vistas à conservação da autenticidade e integridade de um bem é ressonante numa parcela de profissionais que atua na preservação cultural do patrimônio construído. Entretanto, pelo menos em nosso país, muitos são os que optam pela conduta contrária, não poucas vezes resultando no “velhinho em folha”, ou seja, nas intervenções de restauro que restabelecem, refazem, reconstituem os componentes e elementos construtivos e artísticos com aparências de “acabado de fazer”, atendendo aos clamores pessoais do público usuário ou dos simples passantes observadores. Aliás, até mesmo a entidade que deve zelar pela premissa da “mínima intervenção” apresenta inúmeros exemplos que contradizem essa máxima.
Ao nível do público em geral, o gosto pela sanidade e salubridade estéticas é razoável porque, embora com conceitos distintos, ambos se interligam de mãos dadas no contexto do bem-estar mental e físico das pessoas. Para esse público, os ambientes e edificações antigas devem refletir estéticas saudáveis e salubres, de luz e alegria, refletindo a vida presente num passado sempre renovado. Para o público intelectualizado, isto é, para aqueles que possuem educação ou conhecimento mais elevados em áreas específicas ou em geral, frequentemente são adeptos aos preceitos que incorporam reflexões mais profundas e críticas sobre o Antigo, o Autêntico, o Íntegro. Evidentemente que esse público rejeita às coisas danificadas, desgastadas, decaídas, que deterioram seus atributos e valores seja pelo uso prolongado ou por negligências. Seja como for, existem de ambos os lados argumentos tanto mais convincentes quanto sejam as altiloquências dos defensores desta ou daquela conduta.
É um fato que, para aqueles que executam os serviços de conservação na prática diária dos canteiros, na opção pelo restauro com refazimentos acentuados, as intervenções são geralmente bem mais fáceis de executar. Para tanto, basta a expertise de um mestre artífice ou, na falta deste, uma orientação segura de quem sabe como se faz a um profissional habilidoso e inteligente. Entretanto, o contrário, isto é, a aplicação da conduta da intervenção mínima exige um atributo a mais, algo além da expertise do mestre artífice ou da inteligência do profissional habilidoso. Trata-se da capacidade de o mestre ou profissional possuir uma visão crítica a partir da assimilação dos preceitos que subjazem a máxima teórica. Esse tipo de pessoa não se encontra com facilidade no mercado de trabalho. Mesmo que se encontrem pessoas com essa qualidade, cada uma traz em si um conjunto de condições cognitivas e de cabedais de conhecimentos que as diferenciam uma das outras. Evidentemente que, numa intervenção de pequena monta, isto é, num componente pequeno, a diretiva da mínima intervenção para se garantir a autenticidade e a integridade de um bem será mais fácil porque apenas uma pessoa estará envolvida na execução. O trabalho irá expressar esteticamente os resultados dos níveis, dos limites autoimpostos pelo profissional na sua busca pela correta sintetização do preceito. Os impasses que se apresentam têm resoluções embasadas no seu acervo crítico, pessoal, sendo que as suas análises, avaliações e tomadas de decisões não enfrentam confrontações que não a lógica da sua dialética interna. A aceitação do seu trabalho pelos pares será proporcional à sua habilidade de dominar as técnicas mais avançadas e recomendadas pelos teóricos do restauro. Já no caso de grandes intervenções, que exijam vários profissionais nas tarefas, há necessidade de mais pessoas, ficando mais difícil se obter o equilíbrio, ou melhor, a harmonia do conjunto. Não é fácil se conciliar as antinomias e idiossincrasias de várias pessoas, que o diga um regente de orquestra. É necessário força pela presença de autoridade e domínio do assunto que se conduz. É preciso que todos os envolvidos entendam e compreendam o que se espera como resultado. É preciso haver ensaios para simular situações variadas para superação dos impasses, alguns visivelmente predisponentes, outros ocultos.
Solução
Para superar os impasses ou as dúvidas quanto aos limites das incursões para a mínima intervenção, o profissional deve focar na adjetivação “necessária” que sempre sucede essa premissa, isto é, nas condições e nos fatores operantes e predisponentes que afetam e podem vir afligir o bem ao decaimento, aos danos, às infestações deletérias. Não é por acaso que essa conduta é íntima ao protocolo das boas práticas da conservação como uma premissa fundamental à preservação do bem. O restauro ou o refazimento sempre foi categorizado como uma ação de caráter excepcional em todos os documentos emanados pelos encontros nacionais e internacionais de especialistas para a salvaguarda do patrimônio. Para o profissional obter êxito nas ações que perfilam a mínima intervenção é necessário maximizar a compreensão sobre o estado de conservação do bem e, particularmente, deter conhecimentos seguros quanto aos materiais, as técnicas e os sistemas construtivos, entendendo como cada componente e elemento se relacionam e interagem entre si, o todo e o meio ambiente. Evidentemente que, esse rol de informações conjuga-se com a exigência do conhecimento aprofundado sobre o passado do bem, principalmente quanto às intervenções realizadas anteriormente. Um levantamento histórico que reúna o mais amplo quadro de dados pretéritos, associado a um detalhado mapeamento de danos permitem que sejam delineadas as áreas limites ao profissional nas suas ações saneadoras, evitando-se incertezas e impasses de decisões quanto aos níveis das intervenções necessárias.
Exemplos
Os casos dos serviços das recuperações das pedras de cantarias do cruzeiro e dos muros do adro, realizados pelos técnicos do antigo SPHAN de Pernambuco [5] – o primeiro em época anterior à década de 1970 e o segundo precisamente no ano 1973 –, fornecem material para se refletir sobre o que se expõe aqui.
- Muros: O par Leões de Foo – um em cada lado na entrada do adro, apoiados sobre uma pilastra de cantaria com modenaturas dóricas –, destaca-se na ornamentação dos muros. A composição desse adro franciscano é um dos mais interessantes e belos existentes no país. Antes de ser um caminho para se adentrar na igreja, especificamente, esse adro é um espaço que convidava o fiel à meditação, reflexão e interação. Com seu monumental cruzeiro à frente, possui uma Via Crucis ou Paixão de Cristo, referindo-se à jornada de Jesus ao Calvário, que normalmente é retratada desde o momento de sua condenação até a sua crucificação e sepultamento. Tradicionalmente representada em 14 estações, e cada estação representa um momento particular dessa jornada. Em João Pessoa encontram-se 6 estações em painéis de azulejos portugueses do século XVIII, emolduradas em nichos de cantarias. São eles: Jesus no Horto das Oliveira, A Prisão de Jesus, O Açoite de Jesus na Coluna, Jesus Ecce Homo, Jesus Carregando a Cruz, Jesus Coroado com Espinhos. Entre os nichos assentam-se revestimentos de silhares de azulejos azul e branco.
O Leão da esquerda [6], que guarnece a entrada do adro, foi objeto de testes de limpezas e de reconhecimento do estado de conservação. Após esses procedimentos, identificaram-se fortes impregnações de microrganismos e danos de desplacamentos de ornatos causados pelos parasitas. Imagens do Acervo Digital do IPHAN [7] de 1973 mostram o estado de conservação das pedras totalmente infestadas de microrganismos e sujidades urbanas diversas [8]. Naquele mesmo ano foram realizados os trabalhos de limpeza e restauro, tanto das cantarias como dos azulejos.
Alguns anos mais tarde, pouco mais de uma década, encontram-se imagens no acervo do IPHAN mostrando as cantarias dos muros novamente infestadas de microrganismos. Evidentemente, a recorrência da parasitagem deveu-se à ausência de manutenções adequadas, pois o meio ambiente é tropical, hostil, muito próximo de manguezais e do oceano, quente e úmido durante a maior parte do ano.
Com a limpeza geral ficaram desvelados os danos nos elementos artístico-construtivos, levando os técnicos da entidade [9] às intervenções de reparos. Na época, a conduta era o que se denomina na atualidade de “ripristino” ou refazimento da forma ou do aspecto primitivo, onde se utilizaram enxertos de argamassa de cimento, cal e areia tanto nas pedras de cantarias como nas áreas complementares em alvenarias dos volumes e ondulações da composição do topo do muro.
Desde aquela época não se encontraram mais registros de intervenções no local, embora, no período de 2007 a 2009, tenham sido realizadas ações de conservação nos painéis de azulejos. As imagens mais recentes colhidas pelo autor mostram infestações severas nas pedras, sendo que, após os testes de limpeza, foi possível observar o nível de decaimento do Leão e das pedras adjacentes. Na orelha esquerda e na parte superior da boca, enxertos de argamassa de cal, cimento e areia estavam desprendidos, descolados do suporte (pedra). Também alguns desgastes ficaram visíveis, como a pupila do olho esquerdo (Fig. 6b) e outros relevos mais. A deliberação do nível de intervenção limitou-se às colagens da orelha (Fig. 6b) e do lábio superior (Fig. 6a) com injeção de resina epoxídica, com arremates de argamassa sílico-mineral hidráulica. A mimetização das tonalidades foi realizada com a técnica do “intonatio”, usando-se óxido natural da Joules & Joules, diluído em água de cal calcítica maturada. Genericamente denominada Crosta-negra, as ações dos microrganismos por sucessivos longos períodos afetaram a tonalidade da pedra calcária pelas infiltrações na porosidade, gerando tons acinzentados [10]. A conduta limitou-se à remoção superficial, em duas lavagens e aplicação de biocida e desparasitante a fim de se obter uma resistência pouco mais prolongada de até um ano sem novas infestações, dando oportunidade à Administração do CCSF realizar os procedimentos de manutenções periódicas [11]. Vejam-se imagens dos procedimentos:
- Cruzeiro: Talvez um dos maiores do Brasil Colonial, simboliza o Monte Gólgota com as escarpas delineadas por um conjunto de perfilaturas e molduras expressivamente inspiradas em Vignola [12]. Encontrava-se com infestações generalizadas de microrganismos e vegetações, além de grande número de desprendimentos de ornatos tanto de pedras como dos enxertos cimentícios realizados no passado pelo IPHAN [13]. O projeto de conservação foi realizado em junho de 2022, seguido da execução em julho do ano seguinte, dentro do Projeto Caminhos da Fé, já mencionado. Como estava recoberto por um manto negro e devido o acesso às áreas mais elevadas só ser possível através de andaimes, não se teve condições de avaliar as extensões dos decaimentos e danos nos elementos artístico-construtivos do monumento. Só após a limpeza identificaram-se as áreas de perdas, dos enxertos e das próteses, tanto cimentícios como em pedras. Semelhante ao Leão de Foo, as ações para eliminação dos microrganismos, que por um longo período causaram vários estragos, deixaram manchas escuras na pedra que não permitem o resgate da tonalidade creme dourado do calcário que adicionava uma sensação de calor e riqueza ao monumento [14]. Muitas áreas de enxertos cimentícios desprenderam-se das pedras, mesmo aquelas fixadas com pinos (tarugos) metálicos. Foi realizada uma varredura para verificação das aderências das antigas intervenções, sendo removidas as que se apresentaram sem consistências, infiltradas e com sinais de desplacamento. A maioria dos danos e das perdas concentram-se no pedestal escalonado e recortado por grandes toros e delicadas perfilaturas até o nível das águias e pelicanos ao pé da cruz. Inclusive, as reconstituições cimentícias realizadas no passado nas aves míticas não foram exitosas em comparação com as originais nas reproduções dos detalhes das cabeças e patas.
As opções para garantir as mínimas intervenções necessárias foram: (a) respeito às intervenções válidas do passado, provavelmente há mais de cinquenta anos, que se apresentaram firmes, consistentes; (b) eliminação das áreas predisponentes às ações de recorrências de microrganismos e vegetações como fendas, buracos, arestas afiadas pelas quebras dos antigos enxertos; (c) refazimentos de modenaturas que haviam sido recuperadas com tarugos metálicos; (d) respeito aos desgastes pelo tempo para se assegurar a percepção de ancianidade das cantarias. A técnica da distinguibilidade foi aplicada nos materiais dos enxertos, utilizando-se argamassa de cal, argila e areia média no traço: uma parte de pasta de cal calcítica, maturada há mais de 45 dias; uma parte de saibro (argila com alto teor de Óxido de Alumínio) com granulometria fina/média; duas partes de areia média, lavada (cinco lavagens em água potável). Essa massa foi aplicada como emboço, sendo que, nas áreas com espessuras além de 3cm, foram aplicados casquilhos com fragmentos de tijolo cerâmicos modernos com uma pequena dosagem de açúcar cristal para assegurar propriedades de “elasticidade”. Para acabamento ou reboco com espessura de até 5mm foi utilizada uma argamassa industrializada para assentamento de blocos de vidro [15]. Vejam-se as imagens que ilustram as condutas aqui defendidas:
Conclusão
O resultado dos trabalhos pode não atender ao gosto de todos, pois há aqueles que desejam ver o “patrimônio histórico” na sua inteireza, desprezando os sinais de decaimentos da passagem do tempo, como outros que querem reconhecê-los antigos pelas marcas da sua história. Este autor entende que a percepção da “ancianidade” em um objeto antigo envolve vários fatores e depende tanto das características intrínsecas do objeto quanto da maneira como é percebido pelos indivíduos e culturas a que pertençam. A idade de um objeto, sua história, seu estilo, materiais e a forma como foi preservado ou desgastado ao longo do tempo são elementos que contribuem para essa percepção. As coisas antigas geralmente mostram sinais de desgastes e têm uma pátina, isto é, alterações na cor ou textura devido ao uso, exposição ao ambiente ou aos processos naturais de envelhecimento que se formam ao longo do tempo. Evidentemente que, a tipologia e as formas artísticas de um bem indicam o seu período histórico específico e quanto mais elas se mantêm nos componentes construtivos e artísticos originais é visto e reconhecido como autêntico, antigo. Além disso, a história de um objeto, incluindo sua origem, quem o possuía e como foi utilizado, contribui para a percepção da sua idade e importância. Assim, a percepção do antigo pode variar conforme o conhecimento e a experiência do observador com a história, arte e as antiguidades. Em diferentes culturas, a idade de um objeto pode ser valorizada de maneiras distintas, influenciando emoções ao evocar sentimentos de nostalgia, conectando pessoas a tempos passados, histórias familiares ou à história coletiva. A antiguidade de um objeto pode gerar curiosidade sobre a sua história e origens, despertando um sentido de conexão de mistério e fascínio, saudosismo e memória com o passado. Não sendo mais um objeto devocional, o cruzeiro e os demais componentes do adro da Igreja de São Francisco do antigo Convento Franciscano apresentam-se como um museu, como uma coleção de espaços e artefatos arquitetônicos que tem a responsabilidade de transmitir a percepção de sua antiguidade e autenticidade, da sua história.
As recomendações emanadas pelo IPHAN para pautar o projeto pelo princípio da MÍNIMA INTERVENÇÃO lastreiam-se num consenso generalizado nas instituições, construído ao longo de inúmeros congressos, encontros e seminários internacionais e nacionais de preservação, tendo como marco a Carta de Veneza (1964) e os documentos subsequentes publicados pela UNESCO e ICOMOS, onde a premissa da mais valia pela conservação prevalece sobre a excepcionalidade do restauro. No entendimento deste autor, apenas a conservação garante a percepção da autenticidade da ancianidade de um bem cultural – percepção multidimensional, onde se entrelaçam os aspectos físicos, históricos, culturais, emocionais e psicológicos; percepção tanto mais como uma experiência subjetiva do indivíduo como quanto um consenso social e cultural sobre o que constitui uma “antiguidade” e seu valor.
Ficha Técnica dos Serviços de Conservação do Cruzeiro
Responsáveis técnicos: Cíntia Guedes, arquiteta; Jorge E. L. Tinoco, arquiteto; Thalita Oliveira, arquiteta.
Colaboradores: Maria Janiely da S. Siqueira, enga de segurança; Maria Virginia Barata, encarregada; Cícero Benício da Silva, estucador; Eliseu Costa, estucador; Francisca Edilene da S. Souza, restauradora; Gerson Soares d S. Junior, auxiliar de restauração; Manoel Meireles C. Santos, auxiliar de restauração.
Fiscalização: Ana Luiza Schuster da Costa, arquiteta, IPHAN-PB.
Notas
[1] Disponível em: https://www.gestaoderestauro.org/textos-para-discussao . Acesso em: 08/01/2024.
[2] https://arquidiocesepb.org.br/caminhos-da-fe/ . Acesso em: 08/01/2024.
[3] Intervenções em Bens Culturais Móveis e Integrados à Arquitetura: Manual para elaboração de projetos. Série Cadernos do DEPAM, nº 2, Brasília / DF, 2019, p.13-14.
[4] KÜHL, Beatriz Mugayar. História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. Revista CPC, São Paulo, v.1, n.1, p. 16-40, nov. 2005/ abr. 2006.
[5] Acrônimo do então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.
[6] Lembrando que a identificação de direita e esquerda numa edificação se dá semelhante aos lados de uma pessoa.
[7] Disponível em: http://acervodigital.iphan.gov.br/xmlui/ . Acesso em: 10/2023.
[8] Do cruzeiro foram retiradas diversas amostras das infestações de microrganismos e de planta, acusando os resultados tratarem-se de: colônias dos gêneros Rhizocarpon e Coenogonium (líquens crostosos); vegetação tipo Nephrolepis exaltata (samambaia-espada); sujidades derivadas da ação humana, notadamente CO2, carvão molecular e enxofre, provavelmente, oriundo dos gases dos veículos movidos a combustão interna. ALVES JR., Antonio. In: Relatório de Análises da Igreja do Convento de São Francisco João Pessoa – Paraíba, Laboratório de Química Analítica e Microbiologia, do Departamento de Química, da Escola Técnica Professor Agamenon Magalhães (Recife-PE).
[9] O engenheiro Ayrton de Almeida Carvalho respondia, na época, pelo SPHAN de Pernambuco, sempre auxiliado em campo pelo seu encarregado, Sr. José Ferrão Castelo Branco. As condutas de intervenções que eram adotadas tinham lastro nas trocas de experiências e conhecimentos entre Dr. Ayrton e Mário Tavares Chicó, da Direção Nacional do Monumentos de Portugal. Inclusive, Dr. Ayrton chegou a publicar o texto “Algumas Notas Sobre o Uso da Pedra na Arquitetura Religiosa do Nordeste”, publicado na Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n° 6, e republicado em 1978, pela FAU/USP, em “Arquitetura Religiosa”. Ele foi chefe da 3ª regional da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) (1946), ficando no cargo até a criação da Secretária do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na década de 1980; continuou na Fundação Nacional pró-Memória por mais uma década até se afastar do serviço por motivo de saúde.
[10] As publicações distribuídas pelo International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property (ICCROM) e pelo International Council on Monuments and Sites (ICOMOS) são unânimes em afirmar que os líquens secretam ácidos que ajudam a dissolver os minerais da pedra, de forma a obter nutrientes. Esses ácidos alteram a superfície da pedra, causando descoloração ou erosão. Também, como qualquer organismo, líquens e algas morrem e os depósitos dos respectivos resíduos orgânicos, particularmente nas pedras porosas, vêm manchá-las. Algumas indicações: The Conservation of Stone – Procedings of the International Symposium, junho 19 a 21 de 1975, publicado pelo Centro per la Conservazione delle Sculture all’Aperto, R. Rossi-Manaresi, Bolonha, 1976; Problemi di Conservazione, Giovanni Urbani, Bolonha, 1973; Conferences on the Weathering of Stones, Brussels 1966-1967, ICOMOS, Paris, 1968.
[11] Com orientações do químico Antonio Alves Junior, foram realizadas duas lavagens: uma inicial, apenas com água potável e, após, outra com solução de 3% de detergente alcalino Extran, mais 0,15% de hidróxido de Amônio, utilizando-se uma pistola pressurizadora de baixa pressão, com capacidade de 1,5 a 10 m.c.a, com bico de leque, mantendo-se um distanciamento de 30 ou mais centímetros das superfícies. Em algumas áreas houve a necessidade de se fazer esfregas com escovas de nylon de densidades, formatos e dimensões diversas. O biocida utilizado foi o Metilparabeno (Nipagin) a 3% e o desparasitante foi o acetato de Cobre à 5%, solvidos em Tolueno com Paraloid B-72 a 5%.
[12] Regola delli Cinque Ordini d’Architecttura, de Giacomo Barozzi da Vignola (1ª edição em 1562). Veja-se reprint de 2018, disponível em sites de vendas de livros online.
[13] Argamassa à base de cimento + cal + areia, feita segundo a antiga receita: 3 partes de areia traçada em 1 parte de cal, deixando-se curtir a massa por mais 48 horas; após, 6 partes da argamassa curtida traçada com 1 parte de cimento Portland. O próprio José Ferrão Castelo Branco passou essa receita para este autor, enquanto era estudante de Arquitetura no início da década de 1970. Aliás, receita que meu avô e o meu pai também utilizavam nas suas obras e serviços.
[14] Cor que ainda pode ser vista nas cantarias que compõem a galilé que, por um motivo ainda desconhecido, se mantém imune aos ataques dos microrganismos em grande área.
[15] A opção por esse tipo de argamassa deveu-se pelas características e propriedades diferenciadas das comuns, utilizadas em tijolos ou blocos cerâmicos, principalmente devido às características únicas dos blocos de vidro. Estes têm propriedades diferentes em termos de expansão térmica, absorção de água e peso. Embora não venha registrado na embalagem a composição da argamassa, em razão das restrições garantidas pela legislação de proteção ao segredo industrial, a expertise deste autor, reconhece o emprego dos materiais como: cimento branco estrutural, que serve como o aglomerante principal da mistura; cal, pois sua adição melhora a trabalhabilidade, a aderência e reduz a probabilidade de fissuras; areia siliciosa e quartzosa lavadas e queimadas (isentas de impurezas); aditivos na formulação para assegurar flexibilidade com impermeabilidade como dispersões e adesivos, provavelmente, o Acrodur e/ou o Masterseal 515, ambos da BASF. Evidentemente que, no passado, se utilizavam açucares, sal, proteínas animais e resinas orgânicas para dotar as argamassas com vários tipos de propriedades especiais.
Jorge Eduardo Lucena Tinoco. Arquiteto (UFPE) e Especialista em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos (UFMG). Tem 50 anos de experiência em obras e serviços do patrimônio cultural construído. Atua desde 2003 com ensino e pesquisas de materiais, técnicas e sistemas construtivos tradicionais.
… v.7, n.14 (2023)
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