ReUSO 2016: IV Convegno Internazionale sulla Documentazione, Conservazione e Recupero del Patrimonio Architettonico e sulla Tutela Paesaggistica
A última edição do ReUSO, “Congresso Internacional sobre Documentação, Conservação e Recuperação do Patrimônio Arquitetônico e sobre Tutela Paisagística”, ocorreu em Pavia, Itália, nos dias 6, 7, e 8 de outubro de 2016. O evento é organizado anualmente e tem como objetivo incentivar o intercâmbio de experiências e colocar em discussão estratégias criteriosas para as intervenções voltadas à reutilização do patrimônio, tanto em nível arquitetônico quanto urbano e paisagístico. O primeiro Congresso Internacional ReUSO ocorreu em 2013 e foi sediado em Madrid, Espanha. Nos anos seguintes, as cidades de Florença (2014), Valência (2015) e Pavia (2016) receberam o evento, fomentando um profícuo debate multidisciplinar entre a comunidade acadêmica e as diversas categorias profissionais envolvidas no restauro arquitetônico, urbano e paisagístico
Nesta seção, apresentamos as entrevistas com o Professor Sandro Parrinello, diretor científico do ReUSO 2016, e com os professores Stefano Bertocci, Francesca Picchio, Giovanni Minutoli e Michelangelo Pivetta, integrantes dos comitês organizadores da última edição do evento. Os professores atuam na Università degli Studi di Firenze e na Università degli Studi di Pavia. A organização e realização do congresso contou com o envolvimento de diversos profissionais, além da colaboração de estudantes de doutorado. As entrevistas foram conduzidas pela arquiteta Regina Helena Vieira Santos, em colaboração especial para a Revista Restauro.
Professor Sandro Parrinello
Arquiteto, Ph.D., professor interino do Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura da Universidade de Pavia, Itália (Dipartimento di Ingegneria Civile e Architetturadell’Università degli Studi di Pavia) e diretor científico da comissão organizadora do congresso ReUso
Regina Helena Viera Santos (RHVS): Professor Sandro Parrinello, o Sr., que viaja muito devido à atuação como pesquisador na cátedra de Levantamento e Representação da Arquitetura, como enxerga o patrimônio arquitetônico hoje, no mundo contemporâneo?
Prof. Sandro Parrinello: O grande desafio da contemporaneidade é a capacidade de perdurar no tempo, diante da utilização de materiais inovadores. Estamos certos do comportamento dos monumentos antigos, mas não existem, ainda, instrumentos culturais para compreendermos como lidar com a conservação dos edifícios e dos monumentos do século passado. De um modo geral, o patrimônio histórico possui, finalmente, um reconhecimento em nível global como bem cultural; evento recente, se se pensar em quanta história se perdeu no decorrer das últimas décadas, devido à destruição de aldeias ou cidades históricas inteiras, especialmente na Ásia. O mesmo acontece, hoje, na África, e continua a acontecer nas regiões mais extremas do planeta. A economia é o maior mal para os monumentos, onde não há riqueza (em termos de dinheiro), certamente o patrimônio histórico permanece inalterado.
RHVS: Quando se fala de um Congresso Internacional, como o Sr. visualiza a conservação e recuperação dos bens culturais, também em países do novo mundo?
Prof. Sandro Parrinello: Congressos internacionais, como o ReUSO que será em Pavia, nos próximos dias 6, 7 e 8 de outubro, são experiências fundamentais para conseguirmos discutir com especialistas da área. São muitos participantes da América do Sul e isso é bom porque o novo mundo conserva um patrimônio histórico e arquitetônico de extrema importância, especialmente no centro e no sul da América, e é útil que haja um debate em nível internacional para preservar uma riqueza histórica que não tem bandeira e que pertence a todos.
O restauro e a conservação possuem muitas filosofias, nem sempre a teoria é combinada com uma boa prática, especialmente devido aos contextos sociais nos quais uma intervenção de conservação é posta em ação. Justamente por este motivo, é necessário difundir a cultura do restauro, que diz respeito à prática do conservar e do manter, de compreender como são feitas as coisas e como elas foram construídas, tentando recuperar os processos de construção e as metodologias de intervenção que tiveram um processo de desenvolvimento em centenas ou milhares de anos e que não devem ser perdidos.
Professor Stefano Bertocci
Arquiteto; Ph.D., professor interino do Departamento de Arquitetura da Universidade de Florença, Itália (Dipartimento di Architettura dell’Università degli Studi di Firenze) e membro da comissão organizadora do congresso ReUso
RHVS: O Sr. já participou do Congresso ReUSO em anos anteriores. Como e por que começaram esses encontros?
Prof. Stefano Bertocci: Quero destacar o caráter interdisciplinar deste congresso, que foi projetado pela primeira vez em 2013, justamente para reconectar uma série de temas que, até agora, de um ponto de vista científico, foram desenvolvidos quase que paralelamente. ReUSO é um acrônimo que conecta bem os principais campos científicos que se ocupam do patrimônio, do ponto de vista da arquitetura e dos tecidos urbanos de interesse histórico, desde as disciplinas de desenho, representação e levantamento métrico-arquitetônico, até os aspectos da conservação, do diagnóstico e do restauro científico. Em particular quero recordar a notável contribuição de todo o setor da Documentação do Patrimônio, que hoje assume um interesse particular devido às oportunidades abertas nos setores digitais. As contínuas inovações, do ponto de vista tecnológico, amadurecidas nas últimas duas décadas, constituem uma contribuição essencial à atividade de conservação do patrimônio.
Múltiplas oportunidades são oferecidas por tudo aquilo que hoje chamamos de realidade virtual ou mundo digital; esses dados digitais são agora considerados importantes não só do ponto de vista do aspecto técnico e prático – no suporte das atividades de conservação, das quais antes foi falado –, mas hoje são também considerados como uma oportunidade real para a sobrevivência do patrimônio (secondlife). Também assume notável importância, então, a conservação do patrimônio digital que documenta as fases da vida atual de um determinado objeto do patrimônio: essas bases de dados, se pensarmos especialmente aos riscos ao qual o patrimônio real é exposto, podem constituir esse mesmo patrimônio a tutelar, enquanto conservam a memória, a forma e as dimensões, os aspectos físicos e as problemáticas intrínsecas ao objeto em uma forma muito próxima do objeto real, naquele determinado momento histórico. As bases de dados constituem não só a memória, mas uma espécie de “duplo virtual” do monumento e do patrimônio que, estando separado das características e dos riscos físicos do sítio real, pode ter outras oportunidades de conservação, mesmo em outro lugar mais seguro ou naquele que é comumente chamado de nuvem digital, e num banco de dados compartilhado por várias instituições, inclusive supranacionais. Estes temas possuem grande atualidade hoje, como mostram as numerosas regiões em crise no nosso planeta, onde estamos perdendo muitos elementos do patrimônio real.
Além dos aspectos de comparação interdisciplinar, é importante observar que todos os participantes desta série de congressos sobre o tema do reuso (edições de Madrid, Florença, Valência e agora Pavia) constituíram uma grande rede internacional de acadêmicos e profissionais comprometidos com a salvaguarda do patrimônio; este é também outro aspecto a ser valorizado em nossos encontros.
RHVS: Como professor da cátedra de Levantamento e Representação da Arquitetura, como o Sr. vê a contribuição dos levantamentos no percurso de um projeto de recuperação e restauro de um edifício?
Prof. Stefano Bertocci: O levantamento arquitetônico é uma atividade que permite investigar profundamente um artefato, cidade ou território objeto das pesquisas, e de indicar de maneira determinante para o projeto de conservação, tanto os aspectos dimensionais como aqueles materiais, também com enfoque nas tecnologias utilizadas; e pode, se devidamente realizado, dar fundamentais indicações também do ponto de vista das estratégias operativas.
Uma documentação apropriada permite especificar com antecedência os conteúdos das operações e as atividades a realizar em campo, fornecendo uma base fundamental para o diagnóstico; por meio de técnicas infográficas apropriadas podemos alcançar também interessantes resultados de simulação dos efeitos do projeto e podemos prefigurar os resultados finais do projeto de conservação e restauro.
Gostaria de salientar também um outro aspecto importante das atividades de levantamento e documentação que, se realizadas de forma adequada à conclusão das obras de conservação e restauro, podem constituir a base fundamental das atividades de manutenção (projeto/programa de manutenção) e das atividades funcionais para uma correta gestão do patrimônio.
A disciplina de levantamento se coloca, então, como um imprescindível fundamento para as atividades de conhecimento e de acompanhamento das escolhas operativas de canteiro, devido à precisão dos elementos específicos e de diagnóstico, inclusive durante o andamento dos trabalhos e como resumo geral das atividades realizadas; como uma fotografia final da conclusão dos trabalhos e base fundamental para a correta gestão do patrimônio.
A concepção do levantamento digital como um banco de dados disponível e atualizável (e não como um processo realizado e finalizado em um dado momento histórico), constituída de representações multi-escala é, há anos, objeto de pesquisa do Laboratório Associado Paisagem, Levantamento e Projeto (Laboratorio Congiunto Landscape, Survey& Design) e do Laboratório de Levantamento do Departamento de Arquitetura (Laboratorio di Rilievo del DIDA, Dipartimento di Architettura); e tem sido aplicada, por meio de pesquisas e convênios para a prestação de serviços, a várias realidades, tanto em sítios arqueológicos como em centros urbanos de interesse histórico, sejam italianos ou estrangeiros. Entre estes recordamos os principais projetos conduzidos, como o plano para o centro histórico de Montepulciano (SI), o plano de reconstrução pós-terremoto da cidade de Acciano (AQ), os levantamentos de parte do centro histórico de Taranto e do bairro de Salah al Din em Jerusalém oriental, o levantamento de Carsulae (TN), o levantamento da fortaleza de Masada (Israel) e a análise da paisagem da ilha de Kizhi, museu nacional de arquitetura em madeira (Rússia).
Professora Francesca Picchio
Arquiteta, Ph.D., professora de Projeto no Departamento de Arquitetura da Universidade de Florença, Itália (Dipartimento de Architettura dell’Università degli Studi di Firenze) e membro da comissão organizadora do congresso ReUso
RHVS: Sendo a senhorita professora de Levantamento Fotogramétrico, como evidencia a importância deste estudo nos processos de levantamento?
Prof.a Francesca Picchio: O corpus informativo fotográfico, realizado no momento da pesquisa, constitui uma bagagem de conhecimento única no seu gênero. Enquanto à pintura é consentido o poder de representar o mundo de uma forma poética, abstrata e experimental; a fotografia tem a tarefa de representar objetivamente o mundo sensível, determinando um dado objetivo e qualitativo do espaço.
As potencialidades que o instrumento fotográfico e as tecnologias digitais são capazes de oferecer à representação têm, inevitavelmente, condicionado as modalidades de aproximação à análise do espaço: os sistemas image based já invadiram a esfera dos levantamentos arquitetônicos e paisagísticos, e a metodologia structure from motion é capaz de gerar modelos tridimensionais altamente confiáveis, carregados de informações complexas e articuladas, as quais são diferenciadas pelo operador.
Hoje em dia, a atividade de documentação fotográfica resulta indispensável em qualquer processo de levantamento, pois contém numerosas informações objetivas sobre o artefato, das quais é sempre possível obter dados úteis à sua manutenção, reuso e restauro.
RHVS: Atualmente, com a alta tecnologia, as imagens são muito precisas. Por que o levantamento fotogramétrico é utilizado como uma preciosa contribuição para desenvolver um projeto de restauro?
Prof.a Francesca Picchio: O levantamento fotogramétrico não é apenas uma ferramenta importante para avaliar o estado de conservação das superfícies das paredes, mas é o ponto de partida para qualquer intervenção tendo em vista a conservação da imagem do bem arquitetônico.
Aquilo que aparece das superfícies das paredes graças ao instrumento da fotografia indica a saúde ou a deterioração dos materiais. Através da fotografia é possível analisar a transformação dos materiais; e sempre, graças à fotografia, poderemos restaurar (ripristinare) o seu aspecto original. Por isso, a imagem digital torna-se instrumento para o reuso, também no tempo do nosso patrimônio.
Professor Giovanni Minutoli
Arquiteto, Ph.D., professor do Laboratório de Retauro do Departamento de Arquitetura da Universidade de Florença (Dipartimento di Architettura dell’Università degli Studi di Firenze) e membro da comissão organizadora do congresso ReUso
RHVS: Em sua experiência como professor no Laboratório de Restauro da Universidade de Florença, como o Sr. vê os novos usos em antigos edifícios, sobretudo naqueles inseridos no tecido urbano?
Prof. Giovanni Minutoli: A reutilização dos edifícios históricos deve sempre respeitar a originalidade do imóvel, sem modificar substancialmente a imagem. Nem todos os usos são idôneos e muitas vezes não se valoriza o edifício adequadamente antes de conjecturar sobre sua transformação funcional.
O problema da instalação dos sistemas tecnológicos e de segurança no interior dos edifícios antigos frequentemente põe em risco a possibilidade de transformar residências históricas ou edifícios religiosos em hotéis, restaurantes e museus. Infelizmente, muitas vezes nos deparamos com a inserção de “estruturas” modernas em “estilo internacional” no interior de edifícios antigos, que desnaturam o edifício e o tornam pouco reconhecível. No Museu da Cidade de Madrid, as fachadas do antigo edifício foram restauradas de maneira exemplar, enquanto o interior foi todo esvaziado e “preenchido” com um edifício extremamente belo, mas que não manteve nenhuma relação com o edifício antigo e com a parte externa.
Reusar se pode e se deve! Mas deve ser feito respeitando o edifício, procurando favorecer e valorizar as características do bem a tutelar.
RHVS: E no Museu Thyssen-Bornemisza, vi uma grande intervenção, o que o Sr. pensa?
Prof. Giovanni Minutoli: Eu realmente gosto da integração do volume externo contemporâneo! Permaneço perplexo com os interiores, modificações menos agressivas que o outro edifício, mas…
RHVS: E quando se fala do uso residencial, o Sr. teria algum comentário a fazer? Por exemplo,há antigos edifícios em toda a Itália que deverão ser adaptados às necessidades atuais…?
Prof. Giovanni Minutoli: No caso de uso residencial, não se pode pensar em inserir em um edifício antigo 30 banheiros, um sistema de calefação que garanta um clima tropical e uma climatização do polo norte! Se se escolhe estar em um edifício histórico é preciso abandonar o fetiche da modernidade e respeitar o imóvel, sem procurar violentá-lo para fornecer um conforto que nasce da publicidade e que nos impõe necessidades não reais.
Professor Michelangelo Pivetta
Arquiteto, Ph.D., professor de Projeto do Departamento de Arquitetura da Universidade de Florença (Dipartimento di Architettura, Università degli Studi di Firenze)
RHVS: Nos projetos aqui na Itália, há um diálogo entre o projeto de restauro e o projeto do novo. Como professor da cátedra de Projeto, como o senhor aborda este tema em aula?
Prof. Michelangelo Pivetta: Entre as numerosas áreas em que a ação arquitetônica se move na contemporaneidade, já não pode passar despercebido o setor, cada vez mais frequente, denominado reuso. O moderno, até então não rubricado em sentido histórico a um passado, mesmo que recente [nas ações de preservação]; dado o aumento da velocidade e o relativo restringir-se do tempo, parece cada vez mais remoto. Desse modo, alijou-se do campo da preservação arquiteturas que hoje estão em destroços, ou melhor, já quase em ruínas, e que necessitam de uma ação rápida e resolutória com o intuito de garantir sua reintegração funcional no tecido construído. Se, na Europa, como sempre se diz, há décadas essas operações são consideradas normais; na Itália, onde, paradoxalmente, é ainda mais forte a ausência do conceito da demolição, tais eventos regenerativos lutam para encontrar o espaço necessário.
Mas, talvez seja melhor primeiro tentar entender qual seria o real significado de reuso e que coisa o diferencia do restauro ou da reforma.
Ao estabelecer a passagem entre uma categoria de intervenção e outra, certamente existem áreas cinzas que diluem qualquer tentativa de esquematização matemática; mas podemos tentar definir, no entanto, um processo lógico em cada caso e, portanto, uma abordagem de projetar diferente. No fundo, a história da arquitetura é repleta de eventos de reuso, da antiguidade a hoje, do Teatro de Marcello à Cidade da Cultura de Chipperfield, em Milão.
No reuso, diferentemente do restauro, não se coloca tanto o problema da conservação, quanto aquele da refuncionalização. Então, independentemente do objeto sobre o qual é operado, se estabelece uma etapa adicional na relação entre projeto e objeto do próprio projeto, através de uma linguagem de maior responsabilidade e respeito pelo texto já escrito por outros.
Isto nasce, provavelmente, de dois fatores fundamentais que marcam o caminho da arquitetura contemporânea: a linguagem de síntese e uma renovada consciência do valor de ruína.
O primeiro fator emerge de uma homologação do gesto arquitetônico voltada à necessidade de reassumir cada expressão em menos de três passagens – sejam traços compositivos e/ou materiais –, segundo uma distorcida, mas ainda assim partilhada, interpretação da expressão miesiana “less is more”. Tão cômoda para se considerar a la page [a par da atualidade] quanto difícil de utilizar na realidade. O segundo fator, por outro lado, resulta necessário dada a resiliência dos objetos arquitetônicos e o surgimento de uma inédita capacidade humana de adequar-se à criticidade, preferindo a este ponto governá-la que determinar-lhe a eliminação.
Nesse sentido, muito foi feito também pela evolução da técnica e das suas possibilidades, mas, sobretudo, por uma atitude mais propensa do homem no confronto com o ato de edificar, visto muitas vezes como violência evitável e não mais como um ato humano necessário. Assim, hoje, em vez de definir novas arquiteturas autônomas em substituição a outras mais antigas, se prefere a prática da chamada “adaptação”; na maioria das vezes nem mesmo uma adaptação funcional/compositiva, mas apenas térmica ou de infraestrutura. Da série: temos que nos contentar com isso.
Mas há exemplos que vão além, como o recente projeto para o En-Nabi Musa [Israel]. Lá, onde o tempo, as dificuldades práticas e a tenacidade depositaram uma experiência arquitetônica de consistência notável, em um lugar em risco de abandono; e rico, ao contrário, de novas e potenciais possibilidades.
Através de um operar árduo e penoso, o tempo pode parecer estar em pausa, garantindo, ao mesmo tempo, através da cenografia dessas extraordinárias imagens estáticas, um suporte mais do que adequado à vida e às atividades contemporâneas. Pouco importa que ali se realizem exposições, encontros culturais ou eventos de teatro, porque tudo, de qualquer modo, será homologado pela cena em que tudo acontece.
Como podemos nos mover, hoje, dentro de uma cenografia de Mario Sironi tornada real, cada momento é vivido através de algum tipo de alienação e sublimação mística do conceito de espaço e, por si só, de tempo. Aqui, espaço e tempo são anulados pela sua sobreposição.
Talvez este seja o principal segredo por trás dessas operações de reuso: a elaboração de uma nova condição da modernidade. Talvez por isto mesmo e desta forma, o reuso deva ser considerado sinal de renovado interesse por uma pós-modernidade transformada.
Isto é aquilo que tento, e tento repetidamente, comunicar na atividade didática e realizar na atividade projetual.
RHVS: Para concluir, após ouvir as respostas dos colegas arquitetos envolvidos com o Congresso ReUSO, observamos a importância da cooperação multidisciplinar para o resultado final de um bom projeto, assim como a relevância dos trabalhos e pesquisas acadêmicas para o desenvolvimento de projetos reais em diversas cidades, por todo o globo. O caso citado em Israel, entre Jerusalém e Jericó, Nabi-Musa, é um dos exemplos. Trata-se de uma edificação que está no percurso para os peregrinos que vão à Meca. O trabalho realizado adotou a metodologia supracitada, a começar pelos levantamentos, dentre os quais o arquitetônico, laser métrico e o fotogramétrico. Com esta fase concluída, procedeu-se ao relatório do diagnóstico e à análise das patologias e, então, foi desenvolvido o projeto de restauro e recuperação (reuso) do bem cultural arquitetônico em questão. Esta metodologia pode e deve ser adotada para os bens culturais independentemente de quando foram edificados, sejam pinturas rupestres da pré-história, ou exemplares da arquitetura clássica, da Idade Média e da arquitetura modernista. Elegância e humildade são fundamentais em qualquer intervenção. Essa é a lição que compartilho convosco.
Regina Helena Vieira Santos
Arquiteta e urbanista, doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAUUSP), em convênio com a Universidade de Florença (Università degli Studi di Firenze). Técnica do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo e professora universitária.
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